A OUTRA FACE DA LUA
Projeto de continuidade de
promoção da leitura para o ensino secundário (parceria BMS/ESS)
[2012-2013]
DICAS PARA LEITURA E COMPREENSÃO DA POESIA
CAMONIANA
[1]
A colocação das palavras na frase/verso é
flutuante e bastante variada, sendo um dos aspetos mais caraterísticos da fase arcaica e mesmo da época
renascentista, diferindo assim totalmente da que se observa em épocas
posteriores. Assim, embora haja extrema liberdade em relação à ordem das
palavras, há casos que se repetem com bastante frequência, tais como em relação
a:
Verbos
Frequentemente
o verbo ia para a parte final da frase ou do período. Ex.:
A Fé, o Império, e as terras viciosas
de África e de Ásia andaram devastando;
Coloca-se o
sintagma que funciona como complemento direto afastado do verbo, muitas vezes
em final de oração. Ex.:
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é ter
com quem nos mata, lealdade.
Dá-se a troca
de posição dos verbos, no caso de locuções verbais (tempos compostos),
colocando-se primeiro o verbo principal e só depois (logo a seguir ou não) o
verbo auxiliar (modal, aspetual ou temporal). É recorrente o uso dos verbos
auxiliares modais poder, dever, ter de,
haver de, que formam assim locuções verbais com o verbo principal
expressando as ideias de desejo, probabilidade, dever, possibilidade,
necessidade, etc.). Exs.:
Eu, para
levar a palma
com que ser vosso mereça,
quero que o corpo padeça
por vós, que dele sois alma.
Vós do corpo vos queixais,
eu queixar-me de vós posso;
com que ser vosso mereça,
quero que o corpo padeça
por vós, que dele sois alma.
Vós do corpo vos queixais,
eu queixar-me de vós posso;
Mas como
causar pode seu favor
Nos corações
humanos amizade,
Se tão
contrário a si é o mesmo Amor?*
*As opções
mais convencionais seriam:
Mas como
pode [o Amor] causar amizade a seu favor nos corações humanos?
Mas como
pode [o Amor], [a] seu favor, causar amizade nos corações humanos?
Mas como
pode [o Amor] causar amizade nos corações humanos a seu favor?
Pronomes
pessoais átonos
Também chamados
de pronomes oblíquos (me, te, lhe, o, a,
nos, vos, lhes, os, as, se) [recorde-se que os pronomes tónicos são: eu, tu, você, ele(a), nós, vós, vocês,
eles(as), mim, ti, si], são colocados geralmente afastados das formas
verbais regentes, muitas vezes antes do verbo e até, em certos casos, antepondo-se
ao próprio sujeito. Ex.:
Se me desta terra for,
eu vos levarei, amor.
eu vos levarei, amor.
Sintagmas
preposicionados
Antepõem-se
estes sintagmas (que funcionam como complemento indireto) ao verbo. Ex.:
Eu, para
levar a palma
com que ser vosso mereça,
quero que o corpo padeça
por vós, que dele sois alma.
Vós do corpo vos queixais,
com que ser vosso mereça,
quero que o corpo padeça
por vós, que dele sois alma.
Vós do corpo vos queixais,
Adjetivos
qualificativos
Geralmente
precediam os substantivos, enquanto hoje têm sobretudo uma posição pós-nominal.
Aliás, atualmente só costumam preceder os nomes para efeitos retóricos,
conferindo assim maior ênfase ao qualificativo. Ex.:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Orações/sintagmas intercalados
Surgem orações
intercaladas, por vezes longas (percorrendo mais do que um verso), separando o
sujeito do predicado. Ex.:
Eu, para levar a palma
com que ser vosso mereça,
quero que o corpo padeça
por vós, que dele sois alma.
com que ser vosso mereça,
quero que o corpo padeça
por vós, que dele sois alma.
[2]
Dada a diversidade vocabular da escrita
camoniana e o fato de esta usar recorrentemente latinismos e expressões que
caíram hoje em desuso (os chamados arcaísmos, como, por exemplo, as palavras
“etéreo”, “diáfano”, “celeuma”, etc.), ao lê-la convirá estar sempre acompanhado
de um bom dicionário de Língua Portuguesa e ir construindo numa folha à parte uma
lista controlada de termos mais difíceis, de modo a criar uma maior
familiarização com o léxico do século XVI.
[3]
A
evolução da Língua faz com que certas palavras hoje tenham um significado
diferente do da época de Camões, como, por exemplo, “fortuna”.
[4]
Quanto ao uso das vírgulas, há que frisar que,
no caso da escrita de Camões, muitas vezes elas marcam pausas necessárias na
leitura e no seu ritmo, mas não forçosamente a interrupção/quebra da ideia em
causa.
[5]
Atenção à questão do “encavalgamento” (enjambement), ou seja: em Camões o final
do verso/linha não coincide muitas vezes com o fim da ideia/oração.
Hoje em dia, ao ler-se um poema, há, por
vezes, a tentação de parar a leitura no fim do verso/linha, mas acontece que na
poesia camoniana muitas vezes a ideia expressa num verso continua e é concluída
no verso seguinte ou, até, por vezes, (muito) mais adiante, na estrofe seguinte.
[6]
É fundamental, sobretudo para toda a
literatura portuguesa escrita até ao século XVI, fazer uma leitura individual dos
textos em voz alta (e não em modo silencioso
ou num tom baixinho), de modo a que o leitor se oiça a si mesmo, para assim
apreender e clarificar melhor o sentido dos mesmos e também para identificar e
suprir as zonas mais problemáticas em termos de interpretação.
Esquece-se muitas vezes que, no caso do texto
poético (e não só) – devido à sua remota origem oral –, a voz é o primeiro
fator que pode ajudar a resolver os problemas de assimilação e compreensão do
mesmo.
Breves notas sobre História
da Língua
Os mais
antigos textos escritos em português constituem aquilo a que Ivo Castro chamou
a “produção primitiva portuguesa” e datam de inícios do século XIII. A partir
de 1255, o português foi adotado como “língua de registo” na Chancelaria
Régia
(reinado de D. Afonso III).
Portugal
tornou-se independente em 1143 com o rei D. Afonso Henriques. A língua falada à época, o português antigo (antepassado comum ao galego e ao português
modernos, do século XII ao século XIV), começou a
ser usada de forma mais generalizada depois de ter ganhado popularidade na
Península Ibérica cristianizada como uma língua de poesia.
Em 1290, o rei Dom Dinis cria a
primeira universidade portuguesa em Lisboa (o Estudo Geral) e decretou
então que o português, até a esse momento conhecido apenas como “língua vulgar”,
passasse a ser tratado como língua portuguesa e oficialmente usado.
No
segundo período do português arcaico, entre os séculos XIV e XVI, com as
descobertas portuguesas, a língua portuguesa espalhou-se por muitas regiões da Ásia, África e Américas.
O fim do português arcaico é
marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende em 1516. O período do português moderno (do século
XVI até ao presente) teve um aumento do número de palavras originárias do latim
clássico e do grego, emprestadas ao português durante a Renascença, aumentando
assim a complexidade da Língua.
COMO SER LEITOR DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE SILVES?
Para fazer cartão de leitor e poder assim requisitar livros
gratuitamente para casa (bem como CD’s e DVD’s) e ter apoio e orientação
personalizados dos técnicos para os trabalhos escolares, basta apresentar na
receção da mesma os seguintes documentos: bilhete de identidade ou cartão de
cidadão; comprovativo de morada (carta da água, luz, gás, banco ou outra que
contenha a indicação atualizada do domicílio); e, no caso dos menores de 16 anos, uma declaração de responsabilidade,
disponibilizada pela Biblioteca Municipal, para o encarregado de educação assinar.
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