As palavras...

As palavras aspiram ao inicial ao puro percurso

que não corresponde a nenhuma linha do universo (...) e caminham com a agilidade inaugural do sémen da língua...

António Ramos Rosa

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

«O que há em mim é sobretudo cansaço»

Álvaro de Campos (o engenheiro naval), heterónimo de Fernando Pessoa, compreende três fases distintas na sua poética: uma primeira fase, decadentista; a segunda fase, futurista e, por fim, a fase abúlica – a que corresponde o poema «O que há em mim é sobretudo cansaço». Nesta última época da sua escrita, Campos apresenta-se extremamente semelhante a Pessoa-ortónimo, com as temáticas da infância (como paraíso perdido), da fragmentação do eu e do pessimismo existencial em primeiro plano.
O futurista desilude-se com todo o progresso exaltado na segunda fase, e constata que tudo não passara de um sentimento momentâneo e inconsequente, em que um turbilhão emocional falou mais alto. Assim, consegue exteriorizar o que o ortónimo não conseguira, num misto de modernismo e ceticismo – daí a comparticipar na vida extraliterária (íntima) pessoana.
  
Joana Cabrita, 12º N2

Um decadente inconformado!!!

Álvaro de Campos é o mais moderno dos heterónimos de Fernando Pessoa. Os textos de Campos reconstituem o seu percurso poético, seduzido, progressivamente, pelo ópio (fase decadentista) e pelo delírio futurista (fase futurista) para, por fim, voltar ao tédio e ao desânimo (fase abúlica).
Na primeira fase, em Campos, encontra-se o tédio de viver, a morbidez, o decadentismo a que pertence o “Opiário”, que nos revela um sujeito poético doente e inadaptado ao mundo e à vida. Na segunda fase, há um excesso de sensações “Sentir tudo de todas as maneiras”, a tentativa de totalização de todas as possibilidades sensoriais e afetivas, a inquietude “Em fúria fora e dentro de mim”, a exaltação da energia, de todas as dinâmicas, da velocidade e da força como podemos ver na “Ode triunfal”, que constitui um elogio explosivo e excessivo da civilização tecnológica. Na terceira fase, perante a incapacidade das realizações, volta o abatimento, a abulia, a revolta e o inconformismo, a dispersão e a angústia “…Deixem-me em paz!”, as saudades da infância e o cansaço, características essas que podemos ver nos poemas “Lisbon Revisited” e “O que há em mim é sobretudo cansaço”, em que Campos é dominado pelo pensamento.
Deste modo, a obra de Álvaro de Campos passa por três fases, sendo este percurso evolutivo um retrato da tentativa de fuga à angústia que sempre o domina.
  
 Catarina Gomes
12ºN1

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ricardo Reis, o pensador

      Os textos de Ricardo Reis mantêm o equilíbrio próprio do espírito clássico, conseguido por uma engenhosa harmonia entre o epicurismo e o estoicismo. Este admira a calma com que Caeiro encara a vida, procurando atingir a paz e o equilíbrio do seu mestre.
      A poesia de Ricardo reis é toda ela cerebral, com ele aprende-se a viver como se cada instante fosse o último, recusando compromissos afectivos e sociais “Girassóis sempre/ …/ da vida iremos/ tranquilos, tendo…”, para que nada perturbe a nossa serenidade e possamos viver sem dor “As nossas mãos/ nos rios calmos,/ para aprendermos/ calma também”. É a adopção da filosofia epicurista que não renuncia ao prazer, mas que aconselha serenidade, um certa indiferença, aproximando-se de um estado de ataraxia.
      Nos seus poemas está, também, presente um elogio ao estoicismo; a sabedoria consiste na aceitação da condição humana, através da disciplina e da razão, ou seja, sem ceder aos impulsos do instinto “À beira – rio/ à beira - estrada/ conforme calha,”.
      Assim, para Ricardo reis a vida é uma viagem, esta deve ser vivida de forma tranquila, devemos deixá-la “passar”, controlando emoções e sentimentos, aceitando, deste modo, a morte de forma pacífica.

Catarina Gomes, 12ºN1

«Eu não tenho filosofias, tenho sentidos.»

    Contrariamente a Pessoa, Caeiro destaca-se pelo objectivismo, pela vivência do presente e pelo paganismo, sendo a sua poesia sensacionista.

    Caeiro é um poeta da objectividade, pois para ele a realidade não tem de ser interpretada mas sim sentida, é através das sensações, sobretudo visuais, que está a verdade das coisas. Por isso, este poeta limita-se a viver o presente "com os olhos", recusando sempre qualquer intelectualização. A sua base está na substituição do pensamento pelas sensações, como exemplo: "Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...".
Outra das suas características evidentes é o paganismo, visto que, para Caeiro, Deus não existe, o que existe é a própria Natureza. "Não acredito em Deus porque nunca o vi".
    Com efeito, Caeiro e Pessoa são realmente opostos, pois enquanto para um "pensar é estar doente dos olhos", para o outro é no pensamento que reside a razão.
Rita Januário, 12º N1

sábado, 5 de novembro de 2011

Refletindo sobre “O Mestre”...


Alberto Caeiro, nascido no início do séc. XX em Lisboa, é considerado por muitos outros sujeitos poéticos pessoanos “O Mestre”, visto ser o único heterónimo a recusar a razão, embora conquistador de um patamar de paz, tranquilidade e serenidade supremas visando a recusa do pensamento e o privilégio das sensações. Já Pessoa dizia: “Pus em Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática”, sendo este responsável por desvendar o segredo da felicidade através da aceitação do concreto mundo real, negando deste modo que a natureza tem significados ocultos.
A poética deste heterónimo reúne-se em três colectâneas: O Guardador de Rebanhos; O Pastor Amoroso; e Poemas Inconjuntos.
Na primeira colectânea - O Guardador de Rebanhos, o sujeito poético preocupa-se em evidenciar a linearidade do universo da linguagem poética, ausente de profundidade, despojando a subjectividade total do sentido, e daí conhecer-se como o que mais diverge de Pessoa ortónimo. Caeiro nega que a natureza tem uma face oculta e por isso assume-se o “Descobridor da Natureza”. Até porque as coisas são o que são e cabe ao poeta aceitá-las como são, porque para este heterónimo o mundo é concreto, longe do pensamento, reflexões e subjectividade.
A poesia de Caeiro, configurada de prosa, é dotada de sensações, é a poesia da natureza e da harmonia das coisas. Este prosaísmo assenta na sintaxe – frases coordenativas e gerundivas; na semântica – onde vinga a objectividade do vocabulário e adjectivação, imagens concretas apresentadas através de metáfora e comparações, existe um apelo às sensações; e na versificação – ausência de versos e liberdade métrica e estófica. Ou seja, na leitura decorrente da sua poesia podemos averiguar os aspectos temáticos e formais que lhe são característicos.
Tenha-se como exemplos alguns aspectos temáticos presentes na poesia de “O Guardador de Rebanhos”.
No poema I - a tentativa de anular o vício de pensar: “Os meus pensamento são contentes/ Só tenho pena de não saber que eles são contentes” ; a consciência de que pensar é fonte de infelicidade: “Pensar incomoda como andar À chuva”; ele é apenas mais um elemento do real que o rodeia sem ambições nem desejos (panteísmo).
No poema II – a simplicidade da linguagem através de comparações concretizantes: “ O meu olhar é nítido como um girassol”; o deambulismo: “Tenho o costume de andar pelas estradas”.
No poema V – o panteísmo sensualista de Caeiro, uma vez que estamos perante o afirmar da religião da Natureza: “Não acredito em Deus porque nunca o vi. / Se ele quisesse que eu acreditasse nele, / Sem dúvida que viria falar comigo/ E entraria pela minha porta dentro/ Dizendo-me, Aqui estou!”
No poema VIII, onde está presente a inocência e a ingenuidade do poeta.
Para finalizar, Caeiro, assume a recusa do pensamento como característica principal da sua poética. O estilo particular por ele adoptado, onde o prosaísmo domina juntamente com a sua perspectiva de mundo concreto, claro e evidente entre outras características da sua poética, afirma-o como o mais complexo dos heterónimos de Pessoa, já que recusa o pensamento.
É denominado por muitos críticos literários, o culpado pelo alcance do “grau zero do pensamento” que implica uma complexa operação mental, permitindo-lhe atingir um lugar em destaque perante os restantes heterónimos.
A sua poesia é precisamente o oposto da poesia do ortónimo pessoano, até porque, para Caeiro, escrever é uma acção que surge espontaneamente e daí a sua objectividade concreta que visa atingir a felicidade sem desfrutar do pensamento e do mundo abstracto. Por isso, para si, “pensar é não compreender”.

Jessica Guerreiro 12.º N1 n.º 11

 

“Eu nunca passo para além da realidade imediata. Para além da realidade imediata não há nada.” Alberto Caeiro

Caeiro tem uma relação sensorial com o mundo, vivendo objectivamente o presente e a Natureza, retirando dela todas as respostas para o mundo/universo.
Caeiro vive em constante comunhão com a Natureza, recusando a metafísica e o pensamento, “Mas que melhor metafísica que a delas/Que é a de não saber para que vivem/Nem saber que o não sabem?”. Para Caeiro, a vida resume-se ao presente e às sensações, principalmente sensoriais, que dele advêm e à adoração da Natureza: a constante novidade do mundo e a sua perfeição. Por isso é pagão, panteísta, porque crê que a Natureza é divina e como tal, digna de se louvar e adorar: “E a minha vida é toda uma oração e uma missa”.
Em conclusão, Alberto Caeiro é um poeta da Natureza, que vive o presente recusando o pensamento e privilegiando as sensações (sobretudo visuais), acreditando na Natureza como perfeita e divina, sendo esta (a comunhão com a Natureza) a única forma de ser feliz.

Mariana Sequeira
12ºN3

Ainda o fingimento de Pessoa...

“O poeta é um fingidor”. Esta é uma das mais conhecidas frases de Fernando Pessoa, que remete para a teoria do fingimento artístico como a única forma de criação poética, pois para se criar poesia é necessário elevar as emoções/sentimentos ao pensamento e, consequentemente, à imaginação.

A partir do poema Autopsicografia, pode afirmar-se que fingir é inventar/modelar as emoções sentidas ao nível do pensamento, concebendo conceitos que exprimem as emoções que o poeta quer transmitir para o papel; assim, os leitores, ao só terem acesso às palavras que o poeta usou para expressar a sua emoção, vão encarar e interpretar a emoção escrita consoante a sua experiência com essa emoção.
Ainda neste poema, Pessoa apresenta três tipos de Dor/emoção: a sentida pelo poeta, a Dor real; a intelectualizada/escrita, que já é uma Dor fingida, pois foi alterada no pensamento do poeta por forma a ser escrita; e a lida, a única Dor a que os leitores têm acesso, e que interpretam de acordo com a sua visão das coisas.
Em conclusão, a teoria do fingimento consiste em transformar as emoções pela razão, por forma a serem escritas, o que quer dizer que a poesia só pode descrever emoções fingidas/modeladas, pois as emoções reais continuam no poeta, que as tenta representar através de palavras.

Mariana Sequeira

12ºN3

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Caeiro, uma vida de tranquilidade!

Alberto Caeiro relaciona-se de forma harmoniosa com o mundo, porque recusa o pensamento e a abstracção, privilegiando as sensações, nomeadamente as visuais relacionando-as com a natureza.
Caeiro consegue atingir a paz, a tranquilidade e a simplicidade através da recusa do pensamento, ao privilegiar o sentir “eu não tenho filosofia, tenho sentidos”. As coisas são o que são, resumem-se à sua aparência e ao poeta cabe aceitá-las como elas são, sem pensar, porque “pensar é estar doente dos olhos”.
Poeta do real objectivo, Caeiro afirma: “fui o único poeta da Natureza”. Ama a Natureza: “Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, / Mas porque a amo, e amo-a por isso”. Caeiro pretende ser o “descobridor da natureza”, negando que a natureza tenha significados ocultos.
Em conclusão, assume precisamente um posicionamento contrário ao de Pessoa ortónimo, pois  não vê para além da aparência, considera que aquilo que vê é apenas a exteriorização do universo e isso lhe basta. O poeta, ao recusar o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afecta Pessoa.


Catarina Gomes, 12º N1

O poeta das sensações...

Estamos diante de Alberto Caeiro, heterónimo de Pessoa, o “Mestre” de todos os sujeitos poéticos pessoanos (inclusivé do ortónimo) e ilustrador da poesia das sensações, da Natureza e da harmonia do mundo. Metaforicamente é um pastor, o qual observa o que o rodeia com objectividade. Resulta de uma tentativa pessoana de deixar o mundo das ideias e da excessiva racionalidade para trás, abraçando o plano das sensações, do panteísmo, da submissão humana às leis da vida e da Natureza e da valorização do presente.

Porém, apesar de Caeiro renunciar à  transposição da vida terrena pelas ideias (filosofias), acaba por, numa ilusória ingenuidade, contradizer as suas próprias palavras, como acontece em “E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz”, no Poema I d' “O Guardador de Rebanhos”.

Joana Cabrita, 12º N2

Caeiro, o antimetafísico!

Alberto Caeiro, um heterónimo pessoano, é o poeta da simplicidade completa e da clareza total. É considerado o poeta das sensações, pois a sua interpretação do mundo é feita através dos sentidos.


Este poeta é considerado antimetafísico, pois nega a utilidade do pensamento, e afirma que "pensar é estar doente dos olhos". Visto como o poeta do olhar, Caeiro procura ver as coisas como elas são, sem ter que lhes atribuir significado ou sentimentos humanos. Na sua obra, verifica-se um objectivismo pagão, onde ocorre uma recusa da filosofia, do transcendente e da subjectividade. Caeiro identifica-se com a Natureza, vivendo segundo o seu ritmo, defendendo a necessidade de estar de acordo com ela.

Numa oposição entre sensação e pensamento, o mundo deste poeta é aquele que se percebe pelos sentidos; se o mundo existe, então basta experimentá-lo, senti-lo e vê-lo. Para Caeiro, ver é compreender, pois tentar compreender pelo pensamento, pela razão, é não saber ver. Alberto Caeiro vê com os olhos e não com a mente.
Tatianan Guerreiro, 12ºN2

Caeiro, o mestre!

Caeiro é considerado o Mestre, o único capaz de atingir a paz e serenidade e sendo, por isso, idolatrado pelos heterónimos, inclusive, por Pessoa.


Conhecido como poeta da natureza, pela sua simplicidade e clareza total. Usa os sentidos para conhecer o mundo que o rodeia, procura ver as coisas como elas são e nada para além disso. Sensacionista puro, procura viver e entender o mundo com o seu simples olhar. O poeta apenas se importa em viver o mundo que vê, o que está por detrás, os porquês, não interessam. A realidade está à vista de todos, não havendo necessidade de buscar ou questionar o óbvio: “Pensar é não compreender”.

Crente na força e vivacidade da Natureza, Caeiro vive o verdadeiro paganismo, para ele a Natureza é sagrada.

Liliana, 12º N2

domingo, 23 de outubro de 2011

Os meus pensamentos são todos sensações!

IX


Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.


s.d.
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.

Tenho tanto sentimento!

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.


Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.


Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

18-9-1933


Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

Quero Sentir tudo de todas as maneiras!!!

Deixo ao cego e ao surdo

A alma com fronteiras,
Que eu quero sentir tudo
De todas as maneiras.

Do alto de ter consciência
Contemplo a terra e o céu,
Olho-os com inocência...
Nada que vejo é meu.

Mas vejo tão atento
Tão neles me disperso
Que cada pensamento
Me torna já diverso.


 E como são estilhaços
Do ser, as coisas dispersas
Quebro a alma em pedaços
E em pessoas diversas.


E se a própria alma vejo
Com outro olhar,
Pergunto se há ensejo
De por isto a julgar.

Ah, tanto como a terra
E o mar e o vasto céu.
Quem se crê próprio erra,
Sou vário e não sou meu.

Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo,
Seja eu os meus pedaços,
Impreciso e diverso.

Se quanto sinto é alheio
E de mim se sente,
Como é que a alma veio
A acabar-se em ente?

Assim eu me acomodo
Com o que Deus criou,
Deixo teu diverso modo
Diversos modos sou.

Assim a Deus imito,
Que quando fez o que é
Tirou-lhe o infinito
E a unidade até.

24-8-1930

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa.
(Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.)
Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

LABIRINTO...

     Não sei quem sou, que alma tenho.
     Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
     Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
     Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantás¬ticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. 10 Como o panteísta se sente árvore e até a flor, sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada por uma suma de nào-eus sintetizados num eu postiço.

Fernando Pessoa, in Páginas íntimas e de Auto-Intetpretação, Ed. Ática

domingo, 16 de outubro de 2011

Sonho. Não Sei quem Sou Sonho.

Sonho. Não Sei quem Sou Sonho.
Não sei quem sou neste momento.

Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Pobre velha música!

     Na primeira estrofe, o sujeito poético realça a temática da infância que não é mais do que um paraíso perdido. Isto faz com que ele apresente sentimentos de angústia e nostalgia (quando ouve a música, lembra-se do passado em que também a ouvia, e chora com saudades desse tempo). No primeiro verso desta estrofe, encontramos uma dupla-adjetivação em posição pré-nominal, o que imprime a subjetividade do sujeito poético (“Pobre velha música!” – a infância já está longe e o hábito de ouvir música também).
    A segunda estrofe é iniciada com a recordação de tempos passados, onde ouvia a música com outros sentimentos. Contudo, existe uma dúvida constante pois como a sua infância parece não ter sido alegre, o sujeito lírico não sabe se a ouviu, pelo menos, no presente evoca uma música de outrora.
    Na terceira estrofe, o poeta revela o desejo de regressar ao passado talvez devido ao facto de o presente lhe ser hóstil, como em quase todos os seus poemas.
    São utilizadas exclamações e interrogações emotivas, pontuação reveladora de um estado de ansiedade. E este estado de frustração é ainda acentuado pela dúvida marcada pelo oximoro que traduz novamente a dúvida acerca da felicidade “E eu era feliz? Não sei:”. O último verso “Fui-o outrora agora.” simboliza a fusão entre o passado e o presente. Numa espécie de fuga ao presente, o “eu” poético reclama esse passado de felicidade, apenas entrevista na memória do presente “Fui-o outrora agora.”.

Marlene Lóia 12º N1
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.

"O coração, se pudesse pensar, pararia."

     "Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
     Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa)

Como a leitura humaniza o ser humano...

     Para um ser humano apreciador de literatura, esta torna-se muito importante pois quem a aprecia não consegue estar muito tempo longe dela. Aqueles que ainda não a descobriram um dia irão perceber que ela pode mudar as suas vidas em vários aspectos. Não só no exterior como interior de cada pessoa, a literatura consegue alterar, formar e engrandecer, tornando-a muito melhor.
     Nos dias de hoje, todas as pessoas andam stressadas e a correr de um lado para o outro, estabelecem uma rotina para tentar organizar os seus dias e seguem-na à risca para que nada falhe. Daí que, quando alguém começa a ler um livro, esse livro, mais tarde ou mais cedo, irá quebrar a rotina porque ninguém consegue estabelecer um limite de tempo para o ler. Por exemplo, um romance ou um livro de aventuras tem uma história que foi feita para cativar o leitor a lê-la até ao fim. Uma pessoa com uma rotina estabelecida que começa a ler um livro desses, ao ficar cativada pela leitura irá quebrar os seus horários e alterar as suas tarefas diárias.
     Por outro lado, a literatura também altera o interior das pessoas, mostra-lhes uma maneira diferente de pensar e, consequentemente, a sua maneira de agir em determinadas situações.
     Assim, os romances podem tornar as pessoas mais sensiveis, mais românticas e por isso vir a tornar os seus relacionamentos mais intensos, compreendendo melhor o outro dando-lhe mais amor.
     Em suma, pode-se dizer que a literatura consegue alterar não só o mundo exterior como o interior de cada ser humano, alterando as suas rotinas, horários, formas de pensar e agir. Assim, pode dizer-se que a literatura só torna o mundo melhor tornando todos mais humanos e menos automatizados.

Anónimo 12ºN3

sábado, 15 de outubro de 2011

Pessoa, por conhecer...

    É um dos poetas maiores da língua portuguesa, inscreveu Lisboa nas páginas da literatura universal e procurou encontrar-se durante toda a sua existência. Encontrar o seu eu interior, explorando ideias e conceitos situados muito acima da realidade mundana, no campo da metafísica, e até das ciências ocultas. Não viveu plenamente a vida, passou por ela. Contudo, deixou um legado irrepreensível e marcante na cultura portuguesa: a sua poesia e maneira singular de ver o mundo.
    São várias as fases pelas quais o poeta deambulou, e as temáticas de escrita também. Contam-se inúmeros heterónimos, sendo os mais conhecidos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, “sintetizados num eu postiço”. O ortónimo espelha bem a sua maneira de criar arte, desde a teoria do fingimento, passando pela dor de pensar, até à nostalgia de um passado perdido, intelectualizando os sentimentos na sua obra.
    Enquanto ser humano, Pessoa não foi dinâmico e versátil como na escrita, deixou o tempo passar, reflectiu continuamente sobre si próprio e o mundo, e acabou por também sofrer com isso. Entregou-se a um plano elevado do quotidiano, e deixou de ter interesse pelo banal, pelo dia-a-dia rotineiro, daí ser chamado “o poeta filósofo”. A imaginação foi o seu maior vício, e talvez o escape para o incómodo que o presente lhe causava. Falamos de um verdadeiro génio que, no meio da incerteza e introspecção que foi a sua vida, conseguiu transformar um refúgio em arte.



Joana Cabrita, 12º N2, nº 14

Fingir... é...

     Fingir. Afinal o que é que significa “fingir”? Ora, hoje em dia, quando se ouve esta palavra, relacionamo-la logo a um acto de cinismdeo ou mentira; um acto malévolo e não algo positivo ou valioso. Uma pessoa que finge é vista, normalmente, como uma pessoa desinteressante. Indivíduos que praticam o acto de fingimento são completamente desvalorizados! Porém, poucos sabem que em latim, “fingir” é imaginar, criar, modelar ou esculpir! É exactamente esse fingimento, chamado fingimento artístico, que os poetas praticam.
     Segundo Fernando Pessoa, o ortónimo, existem três dores que o sujeito poético pode apreciar: a dor sentida, ou vivenciada, as suas emoções ou até as sensações que ele experimentou; a dor escrita, que é a intelectualização dessas emoções; e a dor lida, que é a única à qual os leitores podem ter acesso “Na dor lida sentem bem, /Não as duas que ele teve,” E como é que nasce a dor escrita? É aí que reside o fingimento artístico. Para criar a dor escrita, o poeta tem que fingir, ou seja, tem que modelar as sensações vividas, transformá-las, transfigurá-las, intelectualizá-las! Um sujeito que não sabe fingir não é poeta: “O poeta é um fingidor.”, Autopsicografia.
     Deste modo, conclui-se que o fingimento poético, segundo Fernando Pessoa, é completamente diferente do fingimento comum. O fingimento poético é a transformação, feita pelo poeta, transmutação da dor sentida para a dor intelectualizada. Assim, o poeta é um criador e não um indivíduo que mente: “Dizem que finjo ou minto, / Tudo que escrevo. Não. / Eu simplesmente sinto / Com a imaginação.”, Isto. O “sentir com imaginação, é exactamente o acto do fingimento artístico!

Anna Agamyrzyansc Nº5 12ºN3

nostalgia...

    Nestes poemas, Fernando Pessoa remete com nostalgia para uma infância, possivelmente feliz, pois o poeta não vive o seu presente em plenitude. Pessoa, através do fingimento, intelectualiza essa hipotética saudade de um paraíso perdido, aludindo ao sonho e à inconsciência humana. Para além destas características, os poemas do ortónimo têm como especificidade uma constante incerteza, o típico “não sei”, que conferem ao poeta o estatuto de “O Homem da dúvida”.
    Em “Ó sino da minha aldeia”, o sujeito poético parte do sino da igreja, realiza uma introspeção pessoal, e evoca melodiosamente um passado longínquo, inatingível, que vai dando lugar à saudade - o poeta vive de recordações. Também em “Pobre velha música!” a infância se destaca, convergindo o passado e o presente (estagnado), com o desejo de retorno no tempo.

Joana Cabrita, 12º N2, nº 14



A nostalgia da infância perdida.

A nostalgia da infância perdida é para Pessoa o desejo de reviver os bons momentos da sua infância. Pessoa recorre a elementos símbolos como a música e o sino, que lhe desencadeiam lembranças que, apesar de o alegrar, também o entristecem porque lhe recordam uma idade perdida que nunca mais regressará (“Sinto mais longe o passado.”).
O sujeito lírico afirma que ao recordar-se de um suposto passado sente uma estranheza, pois quem sentiu verdadeiramente esse sentimento foi ele mas quando era mais novo, enquanto que agora esse sentimento se limita a uma recordação como é verificável “ E eu era feliz? Não sei:/Fui-o outrora agora.
Concluindo, embora o poeta deseje regressar ao passado, simultaneamente ele tem consciência de que isso é impossível.

Jéssica Barradas nº12 12N2

Atravessei a vida como um fantasma!

     Fernando Pessoa utiliza um método de escrita inscrito na linha do Modernismo do século XX, que ludibria o leitor, por vezes, quanto à sua mensagem. Falamos da teoria do fingimento poético, presente em “Autopsicografia” e “Isto”. Aqui, o poeta aponta, na escrita, o afastamento das suas emoções primordiais, sobrepondo o conhecimento racional ao afectivo.
     Em “Autopsicografia”, Pessoa retrata um pensamento derivado da emoção (sentida, a primeira dor), intelectualizado (a segunda dor, do pensamento), e que proporciona ao leitor a sua própria dor (lida/sentida). De seguida, em “Isto”, clarifica que, nesta sua teoria, não há mentira, mas sim criação, de realidades ficcionais, recusando a escrita apenas como expressão das emoções. Eis o escape que Pessoa procurava, para viver outras realidades, pelo que afirmou “Atravessei a vida como um fantasma da minha própria vida.”

Joana Cabrita, 12º N2, nº 14

Sinceridade traduzida

    Para Fernando Pessoa, a poesia é o produto intelectual resultante da exsudação das emoções e sentimentos pelo intelecto para a expressão poética, o fingimento poético. Leia-se fingir como imaginar, inventar, criar; no fingimento, o eu poético desdobra as emoções e sentimentos do mundo sensorial para a intrincada caleidoscópica linguagem poética; considerando, então, Pessoa, que a essência da arte é “não a insinceridade, mas sim uma sinceridade traduzida”.
     Em Autopsicografia encontramos um Pessoa, de certa maneira, envolvido pelo esoterismo; reportando ao título, deparamo-nos com a palavra “psicografia”, tratando-se esta, de uma capacidade que certos médiuns possuem para escrever mensagens ditadas por espíritos, ora pelo prefixo “auto”, podemos concluir que Fernando Pessoa realiza o trabalho de espírito ao mesmo tempo que o de psicógrafo, ele próprio realiza o seu estudo psíquico, pretende descobrir o segredo da sua própria poesia, partindo das sensações que são filtradas pelo intelecto. Neste poema, Pessoa pretende demonstrar o processo da composição poética, o qual recorre sempre ao fingimento, onde há a rejeição das emoções.
     No poema Isto, Fernando Pessoa conclui a questão do fingimento poético enunciada em Autopsicografia. Apresentando o poema com o pronome demonstrativo “isto”, Pessoa poderá querer referir-se ao processo da composição poética, à “outra coisa”, a qual, o sujeito poético, para alcançá-la teve que desenhar os “degraus” para chegar ao “terraço”, sendo estas personificações correspondentes às emoções e sentimentos, os quais o eu poético ambiciona transpor, ilustrando desta forma o processo do fingimento artístico, no qual fingir não se trata de uma fraqueza, mas sim de um método de conhecer e alcançar a verdade das coisas.

André Neto nº 4, 12º N1

O silêncio é de ouro!

       «As pessoas perderam o hábito de escutar, os dialogantes só excecionalmente se interessam por um verdadeiro intercâmbio de ideias». Cada vez se comprova mais que as pessoas deixaram de se ouvir, saber falar entre si e saber ouvir os outros. Infelizmente a violência gratuita tornou-se uma prática a que se recorre quando a capacidade de dialogar é subvertida. Surgem assim mais divórcios, mais casos de violência, suicídios, entre outras formas de violência. As estatísticas falam por si.
       Em alguns destes casos, como o de divórcio que pode ocorrer por ambas as partes terem chegado a um consenso, a maior parte dos desentendimentos está relacionado com o facto das pessoas terem perdido o hábito de falar e de se ouvirem mutuamente. Quantas vezes as notícias de primeira página não são algo como “ Homem mata vizinha” ou “Rapaz de quinze anos suicida-se”? São tragédias de facto, mas é a realidade, a nossa realidade, aquela que nos rodeia ou até mesmo que convive conosco no nosso dia a dia. Todos estes acontecimentos são produto de faltas de compreensão originadas nos diálogos ocultos.
       Porém, a presença do silêncio num diálogo torna-o muito mais rico. Este conhecimento já provêm dos nossos ancestrais e das relações duradouras que se criam quando as duas pessoas ao longo da vida criam uma relação tão empática e tão íntima que basta um olhar para saber o que vai na alma do outro. Aqui, as palavras são dispensáveis, o diálogo deixa de ser algo real e transforma-se em palavras “mudas”, de tal modo que a importância que se atribui ao que não é dito, é mais valorizado do que se fossem pronunciadas mil palavras “As palavras são de prata, e o silêncio é de ouro”. As relações estabelecidas nesta base são as mais ricas e mais felizes. Muitas vezes o silêncio fala mesmo por si.
       Como já sabemos, um bom diálogo não se designa apenas à arte de bem falar, todavia a sociedade ainda tem muito que mudar. Os anos que demoramos para desconstruir, ou pelo menos contrariar, os ensinamentos dos nossos antepassados, provavelmente serão os mesmos para os repôr. Contudo, por vezes o ser humano precisa de ser confrontado com a falta de algo para lhe vir a dar valor, como por exemplo ao saber dialogar, que é a arte que assenta na palavra e no silêncio com o intuito de trazer o entendimento até aos homens.

Rita Viegas, nº17
12ºN1

Escutar com o coração!

       Nem sempre damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que nos saem pela boca. Por serem fruto do nosso pensamento, por traduzirem as ideias e os sentimentos, tornam-se por vezes nossas amigas ou até inimigas. A palavra e o silêncio ligam-se entre si, identificam e reflectem o interior do ser humano. A palavra é, por vezes, utilizada como uma lança que magoa, ofende ou humilha, infelizmente às vezes “abusa-se” do uso das palavras, mas também é verdade que o ser humano tem vindo a perder o hábito de dialogar e saber escutar.
       As palavras são nossas amigas quando pensamos antes de as jogar cá para fora, quando são úteis a quem se dirigem, quando quem as escuta sabe interpretá-las. Por exemplo, quando as pessoas estão calmas e falam tranquilamente conseguem dialogar sem ferir, mas quando estão chateadas ou irritadas, as palavras que saem não são pensadas nem sentidas, aí o silêncio, talvez fosse o melhor amigo, só assim não diriam nada de que depois, se pudessem vir a arrepender.
       O ser humano perdeu o hábito de escutar, pois aprender a difícil arte do diálogo é fácil de compreender, mas difícil de praticar. Para poder começar um verdadeiro diálogo, faz falta abrir um espaço no próprio tempo para, simplesmente, ficar a ouvir. Esta é a primeira condição para poder começar um diálogo, pois permite-nos aceder à intimidade, aos interesses, às dores e cansaços do outro. Dialogar não é sempre dar. Muitas vezes, talvez a maior parte, será receber. Muitas vezes, queixamo-nos da falta de tempo. O que se passa é que esse tempo livre ficou cheio de mil e uma coisas “esmagadoras”. Daí que seja bom poder estar reunido com a família ou com os amigos e criar um ambiente de partilha, onde se criem silêncios e momentos de verdadeiro entendimento.
       Em conclusão, as pessoas, têm de aprender a fazer um bom uso das suas palavras e saber dize-las nos momentos certos, não deixar que as suas emoções as dominem, mas também têm que saber ficar em silêncio quando necessário, pois nesses momentos esse é o nosso melhor amigo.



Catarina Gomes

12ºN1

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Teoria... teoria... teoria!!!

A teoria do fingimento poético consiste na transformação intelectual das emoções, ou seja, o sujeito poético escreve acerca de uma dor que outrora sentiu (no passado), mas que no presente já não o afecta (emoções que já não são sentidas pelo poeta no momento em que escreve).

Na perspectiva de Fernando Pessoa existem três tipos de emoções, que estão por detrás da criação poética:
as “emoções vividas” mas já passadas, visto que a composição de um poema não é feita no momento da emoção, mas sim no momento da sua recordação;
as emoções que permanecem “presentes na recordação”- repetidas através de um processo de transformação pelo entendimento;
e, finalmente, as “emoções falsas”, não vividas, apenas imaginadas e re-criadas e que serão dadas a ler ao leitor!
O Fingimento poético é próprio de toda a composição poética do Ortónimo e surge como uma nova concepção de arte. Assim, o poeta brinca intelectualmente com as emoções, de onde o poema resulta da intelectualização do que terá sido pensado.
O fingimento está presente em toda a arte de Fernando Pessoa. O tradicionalismo que se encontra na obra de Pessoa não é mais do que “vivências de estados imaginários”: “ Eu simplesmente sinto/ com a imaginação/ não uso o coração”.
Assim, a teoria do fingimento poético resume-se na capacidade que o poeta tem de transformar, com o intelecto, a matéria em poema e este funciona como o produto das emoções intelectualizadas.

Rita Góis

Nº18 12ºN1

Fingir é já fragmentar-se...

    Em Fernado Pessoa, a arte do fingimento não surge com a emoção, mas sim com a sua recordação. O fingimento assenta, deste modo, no intelecto, isto é, na construção mental que implica a representação das emoções, ou no que se quer representar. O fingir é inventado e mostra o que se quer sentir. O poeta é um modelador dos sentimentos!

    No poema “Autopsicografia”, Pessoa, distingue três entidades durante a escrita poética: o poeta fingidor que se desdobra em dois eu ’s e o leitor. Esta fragmentação do eu cria três tipos de dor: a dor lida, a dor fingida e a dor real. A produção poética parte de uma dor sentida (não no momento em que se escreve) que ao distanciar-se do real, passa a dor fingida e que ao chegar ao leitor é interpretada como o poeta pretende.
    Estamos, portanto, entre o jogo do sentir - pensar, da sinceridade – fingimento, e, da consciência – inconsciência, onde o poeta apenas sente com a imaginação, nunca utilizando o coração.

INÊS 12º H1

Uma leitura especial...

Quando li o poema "Autopsicografia" pela primeira vez, o facto de Pessoa ter-se referido ao poeta como um fingidor ("O poeta é um fingidor") fez-me imediatamente pensar como tal.


Para mim, no início, o poeta era alguém que fingia escrever, alguém que não era verdadeiro com a sua própria escrita e com o seu próprio eu, uma vez que fingia aquilo que não era ou que sentia.

À medida que a análise do poema foi decorrendo, percebi que, para Pessoa, o poeta finge realmente os sentimentos, neste caso mais concreto, a dor.

Mas, a palavra fingir não é sinónimo de não ser verdadeiro, é sim o ato de criar, inovar, construir. O poeta tem de construir a poesia, tem de pensar na maneira mais racional possível, ao invés da sentimental.

Agora sim, faz sentido referirmo-nos ao poeta como um fingidor, pois a poesia é algo complexo e que nem todos têm a capacidade de transmitir como Fernando Pessoa. Dizer que um poeta é um fingidor é, na verdade, dizer que um poeta é um verdadeiro poeta porque uma poesia bem feita tem de ser pensada, construída, estruturada e inovadora. E isso, só vem da nossa capacidade de intelectualização.



Rita Januário

12º N1

sábado, 8 de outubro de 2011

Fingir é outrar-se...

Pessoa ganhou consciência não só de que “o poeta é fingidor”, mas também de que a própria aptidão de exprimir “a dor que deveras sente” só se torna possível graças à arte de fingimento. Como podemos ver na primeira quadra da “Autopsicografia”, o primeiro verso da primeira estrofe contém a ideia fundamental do poema, que logo a seguir é explicado, por meio de uma particularização centrada na dor.
Pessoa fala na teoria do fingimento poético, pois um poema não traduz aquilo que o poeta sente, mas sim aquilo que imagina a partir da recordação do que anteriormente sentiu. O poeta é, assim, um fingidor que escreve uma emoção fingida, pensada, fruto da razão e da imaginação e não uma emoção sentida pelo coração.
O poema “Isto” apresenta-se como uma espécie de esclarecimento em relação à questão do fingimento poético enunciada em “Autopsicografia”. Assim, diz o poeta que não há mentira no acto de criação poética e o fingimento resulta da intelectualização do “sentir”, da racionalização. O sujeito poético nega “o uso do coração”, aponta para os actos de sentir e imaginar, sendo “Isto” uma espécie de síntese.
Em conclusão, o leitor não sente nem a emoção vivida realmente pelo poeta, nem a emoção por ele fingida no poema, sente apenas o que lê. Daí que, segundo Fernando Pessoa, a poesia seja a intelectualização da emoção.

Catarina Gomes  12º N1

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Autopsicografia" e "Isto"


        Em Fernando Pessoa, há uma personalidade poética activa, marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir. Para exprimir a sua arte, Pessoa precisa de intelectualizar o sentimento, pelo que usa o  "fingimento". O poeta parte da realidade, mas só a consegue mostrar num acto de "fingimento", que não é nada mais do que uma nova realidade. Apesar de sentir a dor, ele finge essa mesma dor, com o objectivo de a tentar esconder através de palavras. Ao fingir, a sinceridade do poeta, não está a ser posta em causa, apenas faz com que este  exprima intelectualmente as suas emoções. Através da leitura dos poemas "Autopsicografia" e "Isto" é possível verificar que o poeta apenas sente com a imaginação, não dá uso ao coração.



                                                                                              Tatiana Guerreiro
Nº 24 12ºN2

Fingir é re-criar-se...

Nestes poemas Fernando Pessoa fala da teoria do Fingimento poético, pois o poeta não mostra aquilo que sente, mas sim aquilo que imagina a partir da recordação de um acontecimento passado.

Quer isto dizer que a poesia não está na dor experimentada, ou sentida realmente, mas no seu fingimento. Isto é, a dor sentida, a dor real, para se elevar ao plano da arte tem que se fingir e imaginar, tem de ser expressa em linguagem poética e o poeta tem que partir da dor real para a sua recriação.

E nós, como leitores nunca sentiremos a emoção real ou até mesmo a emoção fingida transmitida pelo poema, apenas iremos sentir aquilo que a nossa sensibilidade permitir interpretar nas palavras usadas pelo poeta. A isto, chama Pessoa a “ intelectualização da sensibilidade”.

Para o poeta, é necessário criar um sentimento e não sentir com o coração, pois o sentimentalismo não é para quem escreve mas sim para quem lê. Para Fernando Pessoa, pode dizer-se que, fingir é um processo de intelectualização do auto conhecimento.

Ana Teresa Encarnação nº2 12º N2

Fingir é criar...

Vivendo sobretudo pela inteligência e pela imaginação, o discurso poético pessoano consiste em fingir sentimentos, até mesmo os que verdadeiramente vivenciamos.

Para Fernando Pessoa, tudo é inteligência , pois tudo o que escreve é produto da imaginação. No momento da produção poética, o poeta finge sentimentos e, emoções, no entanto não deixa de ser verdade, mas essa sinceridade é filtrada, ou seja, é artisticamente trabalhada.

Os poemas “Autopsicografia” e “Isto”, instituem a verdadeira Arte Poética de Pessoa, ambos falam da aprendizagem do não sentir, que sobrepõe o conhecimento racional, intelectualizado ao afectivo e sentimental. Assim, o poema deixa de ser uma construção sentida e transforma-se numa construção artistica.

Mariana Custódio, nº 19 12º N2

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Viajar...

«Apoderou-se de mim uma fúria de viajar. Mas acima de tudo queria voltar à Grécia, que foi para mim o deslumbramento inteiro e puro e onde me senti livre e com asas.»

Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena, Correspondência: 1959-1978,

Lisboa, Guerra & Paz, 2006

O ser humano possui uma versatilidade incrível e um gosto excepcional pela descoberta, pela aventura além-fronteiras. O contacto com outros povos, outras culturas e formas de pensar abre horizontes à índole de cada um, possibilitando não só a descoberta do mundo exterior, mas também a exploração de algo mais: o mundo interior individual.

A viagem aqui realçada remete para a própria exaltação do ego pessoal e traduz-se numa forma de cada indivíduo se auto-conhecer incondicionalmente, facto proporcionado pela comum viagem, a exterior. Em primeiro lugar, é assinalável a mudança que uma viagem consegue criar no ser humano – é um misto de emoção, de abertura ao diálogo intercultural, de partilha e convivência com hábitos pouco comuns num determinado ambiente cultural – o que indubitavelmente leva à introspecção em cada um. Tome-se como exemplo o facto de, quando alguém passa uns dias num outro país, ao regressar a casa, já abarca novos pensamentos, ideais recém-criados. Esse é o caminho para a descoberta da individualidade singular.

Por outro lado, a viagem dá-nos a possibilidade de sentirmos saudades do que é habitual, daquilo que tomamos por garantido no quotidiano, e de o valorizarmos. É o que acontece quando alguém de um país desenvolvido contacta com nativos de um país africano, em que as dificuldades económicas e sociais são tremendas. Essa é outra via de realizarmos uma introspecção, distinguindo o supérfluo do essencial.

Em conclusão: cada viagem é uma nova aventura, uma nova jornada, em que o exterior e o interior do ser humano sofrem alterações e, ao mesmo tempo, acabam por fundir-se. É sobretudo a exploração dos limites de cada um, os quais são testados – o verdadeiro auto-conhecimento.

Joana Cabrita, 12º N2, nº 14 02/10/11

Ei-las que chegam, peregrinas, as palavras!

Libertadas as palavras
Chegam cristalinas,
perfumadas, adamantinas.
Ei-las que correrão de novo por aqui,
Paladinas do amor
Desenfreadas
Em busca do leitor.

Sejam bem vindos, todos os alunos do 12º ano que desejem postar no velho blogue que esteve encarcerado durante um ano.

Basta que nos enviem os vossos trabalhos para crelifma@gmail.com e de imediato os verão aqui postados.

Trabalhos literários, ensaísticos, poéticos, artísticos ou de outra qualquer natureza, com ou sem pseudónimo, pedido que sempre respeitamos.

Vera Mantero

...na Escola Secundária de Silves

Nos dias 21 e 22 de Abril, a artista Vera Mantero esteve na Escola Secundária de Silves. Durante esse tempo decorreram algumas actividades que aproximaram os alunos da coreógrafa e bailarina portuguesa, cuja obra foi dada a conhecer à comunidade escolar.
Detentora de vários trabalhos/obras a nível internacional, Vera Mantero tem-se destacado na área da arte contemporânea, tendo participado no 4º Festival Internacional das Artes de Castilla y Léon, em Salamanca, em 2008, entre outros espectáculos do género.
As actividades consistiram na visualização de documentários, realização de debates, performances e recriações artísticas em torno da sua obra. Em particular, a 22 de Abril, foi apresentada, durante a tarde, “Comer o coração”, concepção e criação conjunta entre a coreógrafa e o escultor Rui Chafes. Vários alunos do 10º e 11º anos recriaram precisamente pinturas com base na obra apresentada, e, para além disso, também outros escreveram poemas inspirados nas criações de Vera Mantero. Houve ainda espaço para colocar várias questões à artista, que contribuíram para um diálogo fluente e mais próximo entre a mesma e os alunos.
De salientar a boa atmosfera presente no encontro, marcado pela partilha de sensações/sentimentos e sobretudo, por uma completa admiração pela arte.
A passagem de Vera Mantero pelo concelho não se restringiu à Escola Secundária. Durante toda a semana em questão, decorreram várias actividades na Biblioteca Municipal, entre elas workshops, apresentações e sessões artísticas. Desta forma, os munícipes puderam contactar com o trabalho desenvolvido pela coreógrafa.
Joana Cabrita
10º N2, nº18

Vera Mantero explicou...

Vera Mantero explicou...

e os alunos criaram...

um workshop teve início por volta das 13h30min com a apresentação de um documentário baseado no espectáculo de Vera Mantero e do escultor, Rui Chafes, Comer o Coração.
Após a visualização do documentário os alunos presentes, nomeadamente, os de Artes foram destacados para pintarem painéis e os de Ciências e Tecnologias para elaborarem textos, para que, através daqueles mesmos trabalhos, se pudessem expressar consoante com o que tinham acabado de ver.
O workshop contou com o apoio incondicional das professoras responsáveis por toda a organização: do projecto Ler - Maria José Afonso, Carla Rosete, Esmeralda Alves – e da professora de Artes, Aurora Neves.
Pelas 15h30min, a protagonista de todo o trabalho que estava a ser feito, Vera Mantero, teve o prazer de contemplar todos os presentes com a sua visita, apreciou os trabalhos e acabou por ver um pequeno slide com a intervenção de algumas alunas que lhe iam colocando questões acerca dos seus projectos e da arte contemporânea. De forma descontraída, em cima de uma mesa, de pé e encostada à janela, respondeu às perguntas colocadas.
Entretanto, Vera Mantero teve de se retirar para descansar e preparar o concerto que naquela noite ia decorrer na Biblioteca Municipal de Silves. O workshop prolongou-se durante grande parte da tarde até todas os projectos estarem concluídos.

Catarina Laginha, 10ºF1, Nº4

Resposta poética ao trabalho de Vera Mantero

Ouço num grito ausente
A verdade, um sufocar,
É vontade de fugir,
Fugir, naufragar, ficar para lá do presente.
Um corpo não só com movimento
Não só em pensamento
Também em viagem
Pelo mundo da liberdade
Como metáfora do tocável
E do tolerável, simples
Universo em plena miragem.
Vislumbro alguém pelo infinito
Em segredo, mistério,
Relevo indefinido
Mero problema de expressão
Rodopio silencioso
E o bater do coração.
No fim de contas, que sensação?
Talvez um louco bater,
Descompassado turbilhão
Todos e sós sentimentos
Numa gota de solidão.
Joana Cabrita
10º N2, nº18

Os alunos interpretaram Vera Mantero

Os alunos interpretaram Vera Mantero


«Somos, com efeito, alguma coisa do que dizemos que somos, mas somos muito mais aquilo que fazemos.»

Taborda de Vasconcelos, Quando os médicos escrevem

Livre, é assim que a vejo
Faz o que sente, usa o corpo como um meio
Um meio para chegar a um fim
Mas a que fim se pode chegar?
Que dança delirante, arte?
Um misto de expressões
Uma lufada de ar fresco
Ela é assim

Pára, pensa e sente
Age, dança e expressa
Ela respira cada sentimento
Sente cada pensamento

Como uma criança em agonia
Temos a artista em desespero
A vontade de dizer algo mais,
De dar algo mais.

A grande fúria dos sentimentos
A que não cala nem consente
Mas sente cada movimento, sentimento.

Liliana Guerreiro 10ºN2 Nº22

O JÚRI DECIDIU...

O JÚRI DECIDIU...

1º PRÉMIO

1º PRÉMIO
Catarina Cruz

2º PRÉMIO

2º PRÉMIO
LAURA ALVES

3º PRÉMIO

3º PRÉMIO
PAULA SILVEIRA

O RESULTADO DO CONCURSO FOI...

O RESULTADO DO CONCURSO FOI...

RESPOSTA À GRAMÁTICA DOS SENTIDOS

Os trabalhos que a seguir se apresentam são uma resposta poética à orquestração musical que o escritor e performer da língua portuguesa, Paulo Condessa, preparou para os alunos da Escola Secundária de Silves, através da sua palavra e dos sons que fez sair das taças tibetanas:

O 10 N2 ESCREVEU...


SINOS SINOS SINOS
IGREJA IGREJA

PRAIA

SINOSSINOS

PRAIA


IGREJA IGREJA

SINOS SINOS SINOS

RUBEN


Flutuo fora do meu corpo
O eu fora de mim
No perfeito branco
Na paz disforme.
Intenso
Pacífico
Indescritível
O eu fora de mim
Sai uma sombra transparente
Danço com doçura numa redoma
Uma caixa de música
Os sons e o vento em mim
Rodopio
Sinfonia
Suave balançar
Fragilidade tranquila
Um vento controla os meus movimentos
Canta-me segredos
Toca-me a transparência.

ADRIANA ROQUE


IR MAIS ALÉM
Campo verde.
Ervas altas transpiram ao sabor do vento
Ao longe, árvores de grande porte erguem-se na paisagem.
Sons calmos. Ervas rasteiras abanam levemente.
O Ritmo acelera, distorcido.
A imagem torna-se vermelha. Um campo a arder.
O Ritmo acalma. Eu estava na colina.
Ao longe, na colina verde
Os sinos tocavam lentamente na Igreja,
as palavras do poeta.
Descalço-me. Subo as escadas brancas do céu.
Anjos e fadas esperavam-me.
Em baixo, as colinas de ervas rasteiras balançavam
para acalmar a solidão da minha partida.
Recordação: Um candeeiro chinês.
Um espanta espíritos dançava ao ritmo do vento.
SIMBOLO da minha presença naquele local.
FLÁVIO MAMEDE


uma praia
areia muito branca
um anjo loiro
de pele perfeita e branca
o corpo
o corpo
o corpo
musculado do anjo:
-que fazes aqui?
não reagi, não respondi
LOIRA

Relembro sentimentos
O presente
Há experiências que aceleram o sofrimento
Relembro sentimentos, problemas
Não me acalmo
Nem esqueço os problemas
E os sentimentos torturam-me
Fui só eu.
JOÃO BENTO
Senti e ouvi
Senti-me noutra dimensão,
estava o meu espírito e os sons das taças.
Só isso, livre de qualquer pensamento.
Só eu e os sons.
Senti-me voar para longe desta sala.
Só eu e os sons.
No fim, voltei … lentamente e regressei ao meu corpo.
Uma paz de espírito.
Senti-me.
ANDREIA PISCARRETA


Imaginei-me …
A percorrer uma estrada,
uma estrada sem fim,
repleta de árvores
floresta, imagens sublimes
Corriam pedaços da minha vida
mistura de sensações
infância
toque de magia e mistério
paz
imensa e profunda
silêncio
ressoam sons em meu redor
Joana Cabrita

Emoções, sentimentos, imagens
A música leve
Um toque na face
Só, a vaguear
Perdi-te
Na rua
Era um dia escuro
Brisa fria
Brisa quente
Brisa doce
Um abraço
A avó e a neta
O adeus, o outro lado do mundo
DANIELA PACHECO


Calma.

Muita calma
Eu sou uma bailarina celestial
Assisto à missa num dia cheio de sol
Tranquilidade
Tocam os sinos na igreja
Agitação, agitação
Que experiência
JOANA LUZ

As palavras elevavam-se
Os pássaros chamavam-me
Subi, subi, subi
Era cada vez mais doce
Mais suave.
As palavras cessaram
Os pássaros devolveram-me
Desci, desci, desci
Ficou a sensação
Tão doce
LILIANA GUERREIRO


Na cama com
pesadelos
Na cama
Na cama
E os pesadelos
A certa altura caí
Levantei-me
Tropecei nas botas
Acordei
Depois não imaginei nada
SÉRGIO SILVA


Eu senti
Ouvi a música
A caixa de música da minha infância
Tinha 5 anos e estava triste
Tinha 10 anos e estava triste

Os meus amigos alegravam-me
Eu senti
Tranquilidade e harmonia
ANDRÉ SILVA



Um quarto de bebé
O mar
As janelas abertas
O vento nas cortinas brancas
Um bebé doce e calmo
As cortinas esvoaçantes
ANNICKA

Uma ilha.
Uma cabana.
Árvores. Frutos
.
Uma luz, um corredor
Uma luz amarela
Um corredor preto
FILIPE BELO


Ouço Sons Sons,
Sons de tranquilidade
Sons de paz
Vontade de dormir
Esquecer tudo à minha volta
Só eu e os Sons
ANDREIA SILVA


Sons Sinos
Sinos de igreja
Cemitério
Antepassados
Tempos passados
Com antepassados
DAVID NEVES


Debaixo de água
Vejo a luz
O cenário muda
É verão.
A brisa percorre-me
Deitado na cama,
a relaxar.
Outros tons. Outros sons
De novo a viagem
Debaixo de água
Vejo a luz do sol
O sol movimenta-se com as ondas
Como uma dança entre as ondas e a luz
O cenário muda
Uma casa. Uma pradaria.
Olho os campos
Alguém a meu lado faz-me sentir bem.
BRUNO MARTINS


Estava a ouvir o mar
e
a
sentir
o calor do meu corpo

não me lembro de mais nada.
JAMES MATOS


Mundo preto
Ar fresco à minha volta
Calma. Sons à minha volta.
Pequena luz.
Palavras da minha vida
Pessoas da minha vida
Sem sentido
É preciso chegar à luz
Abri os olhos
Vi a calma
A acordar
É preciso responder à luz
Quando se morre.
ANA RITA

Os alunos escreveram ... a máquina ilustrou...

Wordle: FLÁVIO MAMEDEWordle: LOIIRA>Wordle: BRUNOWordle: RUBEN >Wordle: joão bento Wordle: ANA RITA Wordle: DAVID NEVES Wordle: JOANA LUZ Wordle: SÉRGIO Wordle: JAMES Wordle: ADRIANA Wordle: ANDREIA PISCARRETA Wordle: HUGO Wordle: ANDRÉ Wordle: ANNICKA Wordle: JOANA CABRITA Wordle: DANIELA PACHECO Wordle: FILIPE Wordle: LILIANA Wordle: ANDREIA SILVA

Quando faltam as palavras...

Quando faltam as palavras...

Fica sempre uma imagem...

Fica sempre uma imagem...

O JOGO DA FLORESTA COM O 10º N1...

Numa floresta surrealista achei uma chave,
Qual espada de brilho incandescente.
Regressei a casa e com aquela chave
Abri o meu coração.
Libertei a minha alma
Voando pelo tempo
Andei pelo sonho
Acordei num corpo extasiado
Graças à chave, vivo a minha vida
Carlos, 10º N1

Linda floresta, tão admiradora quanto bela.
De tanto escutar os seus pássaros,
Apaixonei-me por ela.
Ao respirar aquele ar,
Desejei nunca mais tornar a casa.
Guilherme, 10º N1


A Floresta
É verde, rodeada de árvores
Grande
É a casa dos animais
Silêncio
Floresta calma
Por ser tão calma
Até se ouvem sons de animais
Na floresta
Ruben, 10º N1



A floresta era linda
Árvores, folhas verdes, tão verdes
Como a esperança.
Os pássaros trinavam encantadoras melodias.
Raios de sol no lago, onde a minha imagem ficou
Reflectida na água como um espelho.
Ânia, 10º N1

Floresta que agarra a diversidade
Ser calmo que
Faz libertar a alma...
Imaginar...
Imaginar o que o mundo nos deu
Seres magníficos, inconfundíveis
A floresta é a natureza
Que deus nos deu.
Inês, 10º N1



Na floresta, encontrei uma chave
Chave bela e antiga com quatro dentes riscados.
Muitas vezes foi usada, em portas, baús e tesouros
Redonda, dourada e já enferrujada
Esta simples chave
Mariana G 10º N1



O prato da minha avó
ficará sempre no meu coração
no dia em que ele partiu ninguém mais o viu.
O prato velho da minha avó
tinha muito ainda para dar
E quando é de repente
custa mais a passar
o prato da minha avó
PAULO, 10º N1



Na floresta havia um lago
Maravilhoso e inspirador
Nele se reflectia o sol
Nele se viam os peixes.
Via-me nele como se fosse o meu único espelho.
Nele reflectia o meu rosto,
A minha cara, o meu nariz, o meu corpo
Era um lago maravilhoso e inspirador
Nele se reflectia o sol
Nele se via o meu rosto
Marlene 10º N1

No lago
Estamos num barquinho
Naufragando... Águas nítidas
Fundo misterioso
De um azul escurecido e
Seres de cores exóticas
Algas e peixes e animais nunca vistos
Aqui no fundo, cada vez mais profundo
Aqui no mundo cada vez mais mudo
Jonathan, 10º N1


Lago exótico
Cascata
Mar
Água limpa, peixes coloridos
Tartarugas
Corais no fundo
Água quente, queimei-me, acordei
E cresci!
Mariana S, 10º N1


Um lago seco,
Completamente seco
Contudo existia VIDA
VIDA de forma muito estranha
Vida sem água
Sem absolutamente NADA
Apenas peixes e insectos
Velhos e medonhos
Fartos de esperar
E imaginar.
Sonhavam,
Sonhos
Que não chegavam…
Francisco, 10º N1


No meio da vida , o muro, separando….
Um muro
Um muro que não deixa ver
E quem o fez pretende esconder, esconder…
Um muro
Alto e inquieto
Talvez seja o futuro
O futuro secreto…
João, 10º N1


O muro é longo, velho
Está a cair
É do meu tamanho
Dá para subir
Está cheio de buracos
São janelas
Mas não sei o que me espera
do outro lado
Das janelas
Jordan, 10º N1

NA FLORESTA COM O 10 N1...

Wordle: CARLOSWordle: GUILHERME Wordle: RUBENWordle: ÂNIAWordle: INÊSWordle: PAULO >Wordle: MARIANA GWordle: MARLENEWordle: JONATHANWordle: MARIANA S >Wordle: FRANCISCOWordle: JOÃO

PERCORRENDO A FLORESTA COM O 10 N3

Wordle: 10 N3Wordle: 10 N3 Wordle: 10 N3

A POESIA É UMA COISA INDEFINIDA...

A poesia é uma coisa indefinida.
Cada pessoa pode escrever o que lhe vai na alma, mas os seus leitores podem interpretá-la de maneiras diferentes. É uma guerra de sentimentos, um desabafo das nossas emoções, serve de certo modo para nos aliviar o espirito.
Através das palavras, a nossa imaginação pode levar-nos a quilómetros daqui mas isso, depende de cada um.
Por vezes, não compreendemos o que o escritor nos quer transmitir, mas um poema tem sempre informação a reter, que nos faz pensar, tornando-o assim, uma espécie de… filosofia.
E como podemos ir sempre mais além, é infinita.
Flávio Mamede 10º N2

RECANTO DA IMAGINAÇÃO - Joana Cabrita

Wordle: O RECANTO DA IMAGINAÇÃO

DOCE FRUTO - SARA

Wordle: DOCE FRUTO

O LABIRINTO DA MARLENE

Wordle: MARLENE

AMOR... para a JOANA LUZ

Wordle: AMOR E LUZ

O AMOR DO FLÁVIO

Wordle: poema do amor

Aconteceu na Escola Secundária de Silves


No dia 11 de Março, Quinta-feira, o poeta Paulo Condessa esteve na Escola Secundária de Silves, num encontro promovido pelo Projecto L.E.R. da escola, em colaboração com a Biblioteca Municipal. O escritor/poeta apresentou o espectáculo “Louco Homem Gramático”, que é, segundo as suas palavras, “um esquisito espectáculo poético alfabético”, e os alunos puderam conhecer um pouco a sua obra, principalmente a poética. O encontro foi caracterizado por uma atmosfera de grande envolvimento e adesão por parte do público jovem e ao longo de todo o espectáculo houve muita animação. Nós mesmas denominamos este encontro como “um momento a recordar”, tanto pela originalidade do artista, como pela sensação de partilha de experiências existente entre os elementos presentes.
Depois de uma introdução ao espectáculo, realizada por Paulo Pires, animador da Biblioteca Municipal, o poeta deu início ao seu espectáculo, muito divertido e dinâmico, e muito apreciado pelos alunos presentes. Por entre jogos de palavras e alguns trocadilhos um tanto ao quanto “esquisitos”, Paulo Condessa divertiu a plateia com a sua apresentação em tom teatral. Um dos momentos altos do espectáculo ocorreu quando os alunos acompanharam o poeta na leitura de um poema num registo Rap.
Seguidamente, alguns alunos, agrupados em trios, duplas, ou até mesmo sozinhos, declamaram poemas do escritor, o que demonstrou a diversidade de escrita presente nas suas obras.
A finalizar com chave de ouro, os presentes foram brindados com uma sessão de relaxamento, em que as palavras se combinaram com sons provenientes de instrumentos peculiares. Tal sessão permitiu a todos viajar por mundos longínquos, plenos de sensações, descritos como retratos ocultos do corpo e da mente.
Toda a exibição foi de uma imensa riqueza linguística e pessoal, e, na nossa opinião, salientamos a capacidade que houve para nos abstrair do mundo à nossa volta, explorando a língua portuguesa nas suas múltiplas variantes.
O poeta apresentou ainda este espectáculo na Biblioteca Municipal, no mesma dia, a partir das 21h. Possui um blog de nome “Sangue transparente”, que pode ser visitado em: http://paulocondessa.blogspot.com/ .

Deixamos aqui um pouco da poesia de Paulo Condessa:

Cada lágrima é um beijo
e em cada lágrima caio eu Tu o beijo a cascata
são já pétalas somos flores
caímos sempre a subir
esquecemos avisos em cima de avisos
somos galgos brancos alados
subimos nuvens, absortos
insubmissos

Joana Cabrita, Liliana Guerreiro e Joana Luz 10º N2

"LOUCO HOMEM GRAMÁTICO"

"LOUCO HOMEM GRAMÁTICO"
Paulo Condessa

NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE SILVES

No âmbito do Dia Mundial da Poesia e da Semana da Leitura, a Biblioteca Municipal traz a Silves um dos mais originais e criativos promotores portugueses do livro e da leitura da actualidade, Paulo Condessa, que virá apresentar o espectáculo “Louco homem gramático”.

Dia 11 de Março - pelas 10 horas no Auditório da Escola Secundária de Silves :

para alunos e professores, havendo depois uma conversa/debate do autor com os alunos sobre os seus livros.

e à noite, pelas 21.00h, na Biblioteca Municipal, dirigida ao público em geral.

“louco homem gramático” é, nas palavras de Paulo Condessa, um “esquisito espectáculo poético alfabético”. Numa loucura organizada, às voltas com a leitura e com os tiques da língua, um homem tenta fazer um espectáculo de amor e poesia. Mas tropeça na gramática e cria alergia alfabética. Decide então tomar uma medida profiláctica: imagina um Manifesto contra a velha Gramática! Evoca os grandes heróis da liberdade poética e propõe um palavrário que torne a Língua numa coisa mais… alfassintéctica!

Este espectáculo procura desenvolver o sentido crítico a partir do sentido lúdico e humorístico, despertando o público para a Língua como fonte de investigação pessoal e social, e associando assim a leitura a prazer e diversão.

o céu dentro da boca

Desci as escadas da nave. Pús o pé no planeta

senti a bota afundar-se

numa espécie de algodão doce



A Terra é um sonho virado

de cabeça para baixo (...)

cada beijo é um degrau macio

cada lábio deixa

uma suave pegada de amor

pendurada no parapeito

da boca aberta

cada beijo é uma flor um assobio

cada língua um gomo de esperança



a boca acorda ao som de uma boca inquieta



cada beijo cada pétala

cada degrau macio

subindo até ao céu desperta

o sonho da boca incompleta



in "degaru macio"



Vista desta janela a lua parece poderosa

deve ser por aqui por esta fissura amarela

que à noite os sonhos me entram

directos para as artérias

são duas salas opostas

separados por longos cortinados carmim

onde os grandes combates tomam ligar

no coração do mundo

claro escuro (...)



in "agri-doce"



A minha vontade é espalhr

este grito enorme pelo escuro



enviar uma mensagem

aos corpos vibrantes do espaço

testar se podem realmente ouvir-me

essas grandes barrigas celestes como as mães

ouvem os filhos



acontece que a certas horas do dia

tenho medo que as minhas dúvidas se transformem

em pássaros negros com bicos que deslaçam

rompem amarras até ao limite tolerável

pela matéria que a minha carne sustém



podia ser um fax um telegrama uma mensagem

que fizesse a diferença uma mensagem

que se escutasse a si própria como aos meus ouvidos

se recusam a dar a volta completa

dentro da nave (...)

in "pulmão vestido"

Apresente-se o céu dentro da boca...


Este é o relato de uma viagem impossível pelos astros por todos os mastros que uma nave tern que erguer ao redor do seu corpo luminoso enquanto viaja a nave coroa o espaço dentro de si dentro do espaçoantes que o Sol passe de novo por entre as orbitas são rios de pálpebras que guardam a sombra uma verdade inscrita em todas as portasMuitos iguais a mim não vislumbram esta retina, não perfuramesta devoção aérea com olhos flamejantes:andei a flutuar demasiado tempo acima das cabeçassem saber que estava perdido Demasiadas vezesdei comigo a pensar A projectar-mepara fora do olho em orbitasensível. Masnão tive como dizeralternativa. Oiçamo negro de veludo e constante durante a noitedurante o dia as únicas luzes são estrelasque pertencem a constelações inalcançáveisquando a gravidade se ausenta em parte incertaos pontos cardeais descolam do cérebrosão flocos conscientes que tremem dentro do musculoe eu tremo nas fundações da solidão sideral, tremono inverno que alberga o meu corpo infinitamente minúsculo,tremo e cresço perante: o trono universal(…)Se vos deixo estas memórias meus herdeiros é porque o devo a mim próprio e ao Mundo mas é a Ti que me escapas a Ti que me incentivas que agora me dirijo a Ti e a Vós que iluminais os ares que me circundam com os archotes sagrados do coração. (…)Esta é a história; são estes os registosdo desencontro com o encontro dos olhos com a carado cabelo com a franja do explorador com a sua naveo seu percurso o seu planeta a sua vida a descascaros dedos ate poder sentir em filigranaa renda branca, os gomos nusda Grande Laranjaque o Tempo guarda dentro do tempodentro do corpo onde o Céu derramao sumo da luz que oferece a luzagua que não molha fogo que não queima.Paulo Condessa, o céu dentro da boca







O Segredo é amar...

O Poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceri­dade... E diz assim: «É preciso saber olhar...». E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadito de sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens andavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: «O Poeta beija tudo, graças a Deus ... O segredo é amar...»

Sebastião da Gama (n. 1924, Vila Nogueira de Azeitão), Diário»


Ecos de silêncio

Ecos de silêncio
na sala do aluno...

A poesia diz-se

A poesia diz-se
na sala do aluno...

valter hugo mãe

valter hugo mãe
enCANTOU