Para o meu diário, 25 de Novembro de 2013
Hoje foi um bom dia. Pela manhã, manteve-se sempre
nublado e à tarde choveu. A meio da manhã tomei o pequeno-almoço no bar da
escola, um croissant muito quentinho apesar de ontem estarem mais saborosos.
O professor x é muito severo com os alunos! Acho que devia ser mais brando
connosco.
Na semana passada ralhou com o aluno y por uma coisa insignificante e hoje
fez o mesmo comigo.
O resto das aulas correram bem. Cheguei agora da escola e vou estudar...
Francisca 10º S1
Silves,
16 de Novembro de 2012
Após uma longa conversa com a minha
adorável amiga no mundo grande, decidi ir descansar e sonhar o que me poderia
acontecer no dia seguinte. Ao longo dessa imensa viagem pelo mundo irreal,
aconteceram várias peripécias.
De manhã, ao acordar senti – me
lindamente, parecia que nada iria acontecer, que iria ser um dia perfeitamente
normal, como outro dia qualquer, teria que me despachar para ir para a escola.
Dia normal, sim era o esperado, porém, mal sabia eu que o dia não seria mesmo
nada normal!
Já tinham passado as duas primeiras
aulas do dia, estava na última, porém quando íamos a começar a aula de
Filosofia, surge um enorme relâmpago e a luz vai – se abaixo, nunca pensamos
que teríamos que parar a aula… mas foi exactamente que o fizemos. Esperamos,
esperamos, e quando demos por ela já tinha passado mais de meia hora, foi então
que decidimos que iríamos fazer os possíveis para nos mantermos calmos e dar
continuidade à aula.
No final o Professor só nos disse 2
frases… “Espero que tenham um bom fim – de – semana” e “ O almoço que iremos
comer seja bom e agradável”, bem todos nós agradecemos e dissemos o mesmo para
o Professor mal sabíamos nós o que iria acontecer ao fim de alguns minutos.
Quando chegamos à porta da escola uns
abriram os guarda – chuvas outros pediram para ir debaixo dos guarda – chuvas dos
colegas pois chovia torrencialmente, o céu estava negro. A única coisa que de
negro não tinha nada eram os enormes relâmpagos que assustavam quem andava na
rua, pois os trovões eram barulhentos… não hesitamos fomos todos em direcção à
paragem, despimos os casacos para proteger as mochilas, pois todo o material
escolar iria ficar completamente encharcado.
Abrigámo - nos debaixo de uns enormes
prédios na rua em que todos os dias passamos. Mas nada valeu, corremos todos em
grupo, para onde já havia pessoas a chorar e em pânico com receio que algo
acontecesse pois estava uma enorme tempestade. A paragem já estava cheia quem
chegou tarde teve que se abrigar nos guarda – chuvas que trazia consigo, até ao
momento em que começamos a correr para umas bombas de combustível, pois os
nosso abrigos partiram - se e o vento era cada vez mais forte… Avistamos o
autocarro e corremos contra o vento… pois já se avistava o tornado. Molhados e
sem abrigos, entramos todos no autocarro… Pensávamos nós que nada iria
acontecer até que alguém gritou que se tratava de um tornado, o pânico foi
geral, o autocarro abanou, diria que estávamos em pleno carrossel, mas de
diversão não tinha nenhuma, eu e algumas pessoas ainda mantivemos a calma e procuramos
acalmar os outros, pois a gritaria era enorme.
O centro das preocupações éramos nós, dentro
do autocarro, quando uma árvore centenária caiu em cima deste veículo e vimos
tudo o resto à nossa volta ser arrancado brutalmente do chão e da calçada voando
em direcção ao autocarro… tudo acalmou. Então avisamos os nossos pais. Geramos
o pânico nos seus corações, decidimos sair do autocarro e correr para a escola,
para nos protegermos enquanto os nossos familiares não chegavam.
As
imagens que registasmos eram triste e desoladoras, desde carros a flutuar em
enormes ruas inundadas, árvores enormes arrancadas pelas raízes, mas quando
chegamos ao jardim, também este estava devastado.
Depois cada um de nós recebeu a notícia
de que não havia acesso para Silves e que os nossos pais já vinham a caminho
para nos vir buscar… o telemóvel toca com muita dificuldade o meu pai diz – me
que a minha mãe já estava a porta da escola, eu vou até lá e vejo – a.
A minha primeira reação foi abraçá - la
com força, mesmo estando encharcada, e dizer que gostava muito dela e que tive
o maior susto da minha vida, e que a única coisa que via à minha frente era
tudo o que de bom tinha acontecido na vida até àquele momento… a vida toda. A
minha mãe tentou acalmar - me e foi aí que passamos por algumas das ruas mais
destruídas de Silves, tudo o que se via eram estragos, havia já algumas pessoas
a varrer os passeios… mas as imagens continuaram a ser horríveis… àquela hora
já estava a receber mensagens e telefonemas de amigos que procuravam notícias
minhas… Tudo acabou em bem e hoje,
recordo – me que, apesar de tudo, foi uma experiência arrepiante mas deu para
perceber que todos juntos conseguimos ultrapassar os obstáculos, mesmo sendo
contra um fenómeno natural que se revelou um verdadeiro monstro da Natureza… e digo isto porque nem todos perdemos a calma,
pois oferecemos muita cooperação e força aos restantes.
Cristiana, 10º S1
A memória, o diário, o retrato ou a crónica constituem, frequentemente, formas discursivas que fixam vivências, ficcionalizando-as em interpretações que cruzam momentos, desdobram a realidade e
valorizam múltiplos
registos narrativos.
A memória surge como
um escrito que permite ao seu autor recuperar e juntar pedaços que relatam acontecimentos considerados dignos
de lembrança.
Denomina-se memória exactamente
por permitir a representação de evocações que a capacidade mnemónica apreendeu e fixou, conservando-as em latência. Recorde-se que o conceito de
memória é mais amplo e está presente em todas as espécies vivas e mesmo no simples computador com as
chamadas memórias
RAM e ROM'1'.
Ao contrário do diário, a memória ocupa-se de registos do passado. Procura
traduzir imagens sensoriais recebidas, mas afastadas no tempo e, muitas vezes, do espaço concreto ou ambiente em que se produziram. Influenciada pela
afectividade e pela vontade, identifica-se, frequentemente, com a consciência do Eu e apresenta-se datada por um tempo interior. Identificando vivências e experiências passadas, criando pontes entre
tempos, espaços, factos e pessoas, favorece a construção de novos sentidos para o presente da vida humana. Toma-se, assim, numa obra histórica, que, situada no presente da memória, recorre ao passado para
olhar o futuro.
Na antiguidade grega, Memória (Mnemosyne) era a deusa que dava o poder de recuar no tempo
e recordá-lo para o transmitir à sociedade. A Memória era a mãe das Musas, protectora das
Artes e da História.
Os adivinhos e os poetas eram os responsáveis por traduzir experiências e o sentimento do tempo. Os historiadores,
mais tarde, escreviam para que não fossem perdidos os feitos memoráveis e servissem de exemplo às gerações futuras.
MEMÓRIAS:
O Memorialismo, enquanto
género literário, surge, em Portugal,
na época das primeiras
grandes manifestações literárias em prosa (século XV).
A partir dos séculos
XVIII e XIX, os livros de Memórias ganham
especificidade inerente
à aceção da palavra, porquanto
os
escritores,
deliberadamente, desejam legar o registo da sua presença em determinado lugar,
evidenciando o seu interesse por diferentes realidades.
É deste modo que, na actualidade, podemos testemunhar a
vida
de muitos autores.
Num sentido mais lato e
humanístico, atrevemo-nos a afirmar que
o vocábulo «Memória»
encerra uma ideia supradimensional que
se constitui como o
espírito do mundo, espécie de identidade
que engloba as memórias
passadas, presentes e futuras de todos
os homens que já viveram
e hão-de viver.

Sim, passava aqui frequentemente há
vinte anos...
Nada está mudado — ou, pelo menos, não dou
por isto —
Nesta localidade da cidade ...
Há vinte anos!...
O que eu era então! Ora, era outro...
Há vinte anos, e as casas não sabem de
nada...
Vinte anos inúteis (e sei lá se o foram!
Sei eu o que é útil ou inútil?)...
Vinte anos perdidos (mas o que seria
ganhá-los?)
Tento reconstruir na minha imaginação
Quem eu era e como era quando por aqui
passava
Há vinte anos...
Não me lembro, não me posso lembrar.
O outro que aqui passava, então,
Se existisse hoje, talvez se
lembrasse...
Há tanta personagem de romance que
conheço melhor por dentro
De que esse eu-mesmo que há vinte anos
passava por aqui!
Sim, o mistério do tempo.
Sim, o não se saber nada,
Sim, o termos todos nascido a bordo
Sim, sim, tudo isso, ou outra forma de o
dizer...
Daquela janela do segundo andar, ainda
idêntica a si mesma,
Debruçava-se então uma rapariga mais
velha que eu, mais
lembradamente de azul.
Hoje, se calhar, está o quê?
Podemos imaginar tudo do que nada
sabemos.
Estou parado físisca e moralmente: não
quero imaginar nada...
Houve um dia em que subi esta rua
pensando alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não
existe seja fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado
penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se
cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o
cruzamento.
Olhamos indiferentemente um para o
outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando
um futuro girassol,
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando
nada.
Talvez isso realmente se desse...
Verdadeiramente se desse...
Sim, carnalmente se desse...
Sim, talvez...
de Álvaro de Campo (Fernando Pessoa)
II - LITERATURA CONFESSIONAL
O confessionalismo é, por vezes,
entendido como a literatura do eu. Em termos
literários, tal atitude narrativa consubstancia-se no narrador autodiegético, o que relata as suas
próprias experiências como personagem central da história. O registo de
primeira pessoa gramatical, na literatura confessional, cria a coincidência
entre narrador, protagonista e autor empírico. O facto de se tratar normalmente
de uma narração ulterior em que os acontecimentos estão dispostos numa versão
definitiva delimita significativamente a noção de confissão, quando entendida como auto-revelação do sujeito. Por um
lado, a divisão do sujeito em narrador e personagem obriga a um desfasamento,
que atinge o cerne da revelação individual. Por outro lado, a distância
temporal (mas também afectiva e outra) leva à descoincidência entre o
eu-narrador e o eu-personagem. Ao confessar-se mais tarde, o eu já não é o
mesmo na medida em que as suas circunstâncias já são diversas.
A literatura confessional moderna de
cariz romântico não questiona a distinção entre a obra e o seu autor. A
sinceridade da experiência individual posta em discurso literário visa
sobretudo a vida do autor, esquecendo o texto. De facto, vários textos
confessionais, mesmo muito mais recentes, são considerados como “documentos
humanos”; são os casos de De Profundis (1905) de Oscar Wilde, Cartas de
Katherine Mansfield, Prosas Perdidas de Manuel Laranjeira, obras
apresentadas com essa designação numa colecção da Portugália de meados da
década de 60 do presente século. Sabemos
que alguns dos autores escreveram tais textos com o desejo de deixar atrás de
si um legado de verdade. Outro não é o intuito inicial, sobretudo porque o
autor querexplicar-se enquanto pessoa ao seu público já
formado pela leitura de obras inequivocamente literárias. Mas tais escritos
revestem-se logo de uma ambiguidade na medida em que, apesar do relato
verídico, o autor pode perfeitamente ficcionalizar passagens da sua vida, não
havendo nada que o impeça de tal. Esta ambiguidade leva a distinguir a
sinceridade estética da humana.
Carlos Ceia, Universidade Nova de Lisboa
Termo intimamente ligado ao
confessionalismo. Refere textos literários, que têm como centro a expressão da
intimidade de um indivíduo; em termos discursivos, o texto irradia de um
sujeito de enunciação, que se toma a si mesmo como objecto de conhecimento,
acabando por actualizar o conhece-te a ti mesmo decorrente
da sabedoria antiga e do exame de consciência cristão. Termo que surge, por
vezes, em articulação com a autobiografia.
A auto-análise é uma prática religiosa
cristã com vista ao aperfeiçoamento da pessoa. As
confissões de Santo Agostinho são disso exemplo. Há ainda uma
faceta profana, que tem a ver com o confessar-se,
narrar a própria vida ou justificar-se aos olhos dos outros, prática comum a
vários períodos literários. No entanto, falar de si, analisando-se, só se tornou prática corrente a partir
do iluminismo (devido à Declaração dos direitos do homem) na medida em que,
anteriormente, o confessionalismo estava reservado a uma minoria. A literatura
confessional como um conjunto de textos de teor intimista é, por isso, uma
produção típica da modernidade visto que o princípio dos tempos modernos é a
subjectividade. Neste sentido, a centralidade adquirida pela subjectividade é
justificada pela ausência de modelos, que caracteriza a modernidade na medida
em que é uma época compelida a criar a partir de si própria tudo o que é
normativo. A individualização de teor confessional surgiu da reacção moderna
contra o homem abstracto do neoclassicismo. Jean-Jacques Rousseau é autor de
uma obra precursora da literatura psicológica e confessional moderna, Les Confessions (1782) em que o autor afirma a
diferença redical do seu eu (“um homem em toda a verdade da natureza”). É um
olhar sobre si mesmo marcado por uma sinceridade, que ultrapassa tudo quanto se
conhecia até então em matéria de humildade e de renúncia pessoal. Não se trata
já de um homem frente ao julgamento divino mas de um ser humano perante a
hipocrisia da ordem social e as adversidades da existência.
Carlos Ceia, Prof. na Universidade Nova de Lisboa
OFÉLIA: Toma, é rosmaninho a flor da lembrança. Lembra-te de mim, peço-to, meu querido; estes são amores perfeitos, é para que sempre viva no teu coração de irmão. (...) Aqui tendes, senhor, estas simbólicas flores. (Á rainha) Para vós, senhora, é arruda e também para mim; para vós será a erva da ventura, para mim a da dor. Eis um malmequer. Queria dar-vos violetas, mas murcharam todas quando meu pai morreu; dizem que teve o fim do justo.
(Hamlet Acto 4, Cena 5
by www.eu ela e a escrita.blogspot.com
Eu quero guardar na minha memória
A cor das tuas palavras
Senti-las
na pele até doer
Para
cantá-las até morrer.
Emprestar-te
os meus livros
Oferecer-te
estas palavras:
Doçura,
cambraia,
Brinquedos,
afectos
E
tantas outras…
Eu quero
Que
dances com elas
No
recreio da tua escola
Que
as lances ao vento
Em
gritos de revolta
É
preciso contradizer
É
preciso acreditar
E também
recordar
Eu quero
guardar na minha memória
Que
as tuas palavras eram a tua verdade.
Mas
onde mora a verdade do mundo?
Onde
estão as nossas verdades?
Escuta:
Não
há machado que corte a raiz ao pensamento
Porque
és livre como o vento!
MEMÓRIAS DE UM RIO
ENQUANTO EU CRESCIA
MEMÓRIAS DO MEU SUSPIRO
ONDE A TARDE SE
ESQUECIA.
RUIRAM OS ARCOS,
IMERSOS NOS TEMPOS.
ARDERAM AS PALAVRAS,
SOBRARAM AS MEMÓRIAS
Ei-las que chegam, peregrinas, as palavras!
Libertadas as palavras
Chegam cristalinas,
perfumadas, adamantinas.
Ei-las que correrão de novo por aqui,
Paladinas do amor
Desenfreadas
Em busca do leitor.
Sejam bem vindos, todos os alunos do 12º ano que desejem postar no velho blogue que esteve encarcerado durante um ano.
Basta que nos enviem os vossos trabalhos para crelifma@gmail.com e de imediato os verão aqui postados.
Trabalhos literários, ensaísticos, poéticos, artísticos ou de outra qualquer natureza, com ou sem pseudónimo, pedido que sempre respeitamos.
...na Escola Secundária de Silves
Nos dias 21 e 22 de Abril, a artista Vera Mantero esteve na Escola Secundária de Silves. Durante esse tempo decorreram algumas actividades que aproximaram os alunos da coreógrafa e bailarina portuguesa, cuja obra foi dada a conhecer à comunidade escolar.
Detentora de vários trabalhos/obras a nível internacional, Vera Mantero tem-se destacado na área da arte contemporânea, tendo participado no 4º Festival Internacional das Artes de Castilla y Léon, em Salamanca, em 2008, entre outros espectáculos do género.
As actividades consistiram na visualização de documentários, realização de debates, performances e recriações artísticas em torno da sua obra. Em particular, a 22 de Abril, foi apresentada, durante a tarde, “Comer o coração”, concepção e criação conjunta entre a coreógrafa e o escultor Rui Chafes. Vários alunos do 10º e 11º anos recriaram precisamente pinturas com base na obra apresentada, e, para além disso, também outros escreveram poemas inspirados nas criações de Vera Mantero. Houve ainda espaço para colocar várias questões à artista, que contribuíram para um diálogo fluente e mais próximo entre a mesma e os alunos.
De salientar a boa atmosfera presente no encontro, marcado pela partilha de sensações/sentimentos e sobretudo, por uma completa admiração pela arte.
A passagem de Vera Mantero pelo concelho não se restringiu à Escola Secundária. Durante toda a semana em questão, decorreram várias actividades na Biblioteca Municipal, entre elas workshops, apresentações e sessões artísticas. Desta forma, os munícipes puderam contactar com o trabalho desenvolvido pela coreógrafa.
Joana Cabrita
10º N2, nº18
e os alunos criaram...
um workshop teve início por volta das 13h30min com a apresentação de um documentário baseado no espectáculo de Vera Mantero e do escultor, Rui Chafes, Comer o Coração.
Após a visualização do documentário os alunos presentes, nomeadamente, os de Artes foram destacados para pintarem painéis e os de Ciências e Tecnologias para elaborarem textos, para que, através daqueles mesmos trabalhos, se pudessem expressar consoante com o que tinham acabado de ver.
O workshop contou com o apoio incondicional das professoras responsáveis por toda a organização: do projecto Ler - Maria José Afonso, Carla Rosete, Esmeralda Alves – e da professora de Artes, Aurora Neves.
Pelas 15h30min, a protagonista de todo o trabalho que estava a ser feito, Vera Mantero, teve o prazer de contemplar todos os presentes com a sua visita, apreciou os trabalhos e acabou por ver um pequeno slide com a intervenção de algumas alunas que lhe iam colocando questões acerca dos seus projectos e da arte contemporânea. De forma descontraída, em cima de uma mesa, de pé e encostada à janela, respondeu às perguntas colocadas.
Entretanto, Vera Mantero teve de se retirar para descansar e preparar o concerto que naquela noite ia decorrer na Biblioteca Municipal de Silves. O workshop prolongou-se durante grande parte da tarde até todas os projectos estarem concluídos.
Catarina Laginha, 10ºF1, Nº4
Resposta poética ao trabalho de Vera Mantero
Ouço num grito ausente
A verdade, um sufocar,
É vontade de fugir,
Fugir, naufragar, ficar para lá do presente.
Um corpo não só com movimento
Não só em pensamento
Também em viagem
Pelo mundo da liberdade
Como metáfora do tocável
E do tolerável, simples
Universo em plena miragem.
Vislumbro alguém pelo infinito
Em segredo, mistério,
Relevo indefinido
Mero problema de expressão
Rodopio silencioso
E o bater do coração.
No fim de contas, que sensação?
Talvez um louco bater,
Descompassado turbilhão
Todos e sós sentimentos
Numa gota de solidão.
Joana Cabrita
10º N2, nº18
«Somos, com efeito, alguma coisa do que dizemos que somos, mas somos muito mais aquilo que fazemos.»
Taborda de Vasconcelos, Quando os médicos escrevem
Livre, é assim que a vejo
Faz o que sente, usa o corpo como um meio
Um meio para chegar a um fim
Mas a que fim se pode chegar?
Que dança delirante, arte?
Um misto de expressões
Uma lufada de ar fresco
Ela é assim
Pára, pensa e sente
Age, dança e expressa
Ela respira cada sentimento
Sente cada pensamento
Como uma criança em agonia
Temos a artista em desespero
A vontade de dizer algo mais,
De dar algo mais.
A grande fúria dos sentimentos
A que não cala nem consente
Mas sente cada movimento, sentimento.
Liliana Guerreiro 10ºN2 Nº22
RESPOSTA À GRAMÁTICA DOS SENTIDOS
Os trabalhos que a seguir se apresentam são uma resposta poética à orquestração musical que o escritor e performer da língua portuguesa, Paulo Condessa, preparou para os alunos da Escola Secundária de Silves, através da sua palavra e dos sons que fez sair das taças tibetanas:
O 10 N2 ESCREVEU...
SINOS SINOS SINOS
IGREJA IGREJA
PRAIA
SINOSSINOS
PRAIA
IGREJA IGREJA
SINOS SINOS SINOS
RUBEN
Flutuo fora do meu corpo
O eu fora de mim
No perfeito branco
Na paz disforme.
Intenso
Pacífico
Indescritível
O eu fora de mim
Sai uma sombra transparente
Danço com doçura numa redoma
Uma caixa de música
Os sons e o vento em mim
Rodopio
Sinfonia
Suave balançar
Fragilidade tranquila
Um vento controla os meus movimentos
Canta-me segredos
Toca-me a transparência.
ADRIANA ROQUE
IR MAIS ALÉM
Campo verde.
Ervas altas transpiram ao sabor do vento
Ao longe, árvores de grande porte erguem-se na paisagem.
Sons calmos. Ervas rasteiras abanam levemente.
O Ritmo acelera, distorcido.
A imagem torna-se vermelha. Um campo a arder.
O Ritmo acalma. Eu estava na colina.
Ao longe, na colina verde
Os sinos tocavam lentamente na Igreja,
as palavras do poeta.
Descalço-me. Subo as escadas brancas do céu.
Anjos e fadas esperavam-me.
Em baixo, as colinas de ervas rasteiras balançavam
para acalmar a solidão da minha partida.
Recordação: Um candeeiro chinês.
Um espanta espíritos dançava ao ritmo do vento.
SIMBOLO da minha presença naquele local.
FLÁVIO MAMEDE
uma praia
areia muito branca
um anjo loiro
de pele perfeita e branca
o corpo
o corpo
o corpo
musculado do anjo:
-que fazes aqui?
não reagi, não respondi
LOIRA
Relembro sentimentos
O presente
Há experiências que aceleram o sofrimento
Relembro sentimentos, problemas
Não me acalmo
Nem esqueço os problemas
E os sentimentos torturam-me
Fui só eu.
JOÃO BENTO
Senti e ouvi
Senti-me noutra dimensão,
estava o meu espírito e os sons das taças.
Só isso, livre de qualquer pensamento.
Só eu e os sons.
Senti-me voar para longe desta sala.
Só eu e os sons.
No fim, voltei … lentamente e regressei ao meu corpo.
Uma paz de espírito.
Senti-me.
ANDREIA PISCARRETA
Imaginei-me …
A percorrer uma estrada,
uma estrada sem fim,
repleta de árvores
floresta, imagens sublimes
Corriam pedaços da minha vida
mistura de sensações
infância
toque de magia e mistério
paz
imensa e profunda
silêncio
ressoam sons em meu redor
Joana Cabrita
Emoções, sentimentos, imagens
A música leve
Um toque na face
Só, a vaguear
Perdi-te
Na rua
Era um dia escuro
Brisa fria
Brisa quente
Brisa doce
Um abraço
A avó e a neta
O adeus, o outro lado do mundo
DANIELA PACHECO
Calma.
Muita calma
Eu sou uma bailarina celestial
Assisto à missa num dia cheio de sol
Tranquilidade
Tocam os sinos na igreja
Agitação, agitação
Que experiência
JOANA LUZ
As palavras elevavam-se
Os pássaros chamavam-me
Subi, subi, subi
Era cada vez mais doce
Mais suave.
As palavras cessaram
Os pássaros devolveram-me
Desci, desci, desci
Ficou a sensação
Tão doce
LILIANA GUERREIRO
Na cama com
pesadelos
Na cama
Na cama
E os pesadelos
A certa altura caí
Levantei-me
Tropecei nas botas
Acordei
Depois não imaginei nada
SÉRGIO SILVA
Eu senti
Ouvi a música
A caixa de música da minha infância
Tinha 5 anos e estava triste
Tinha 10 anos e estava triste
Os meus amigos alegravam-me
Eu senti
Tranquilidade e harmonia
ANDRÉ SILVA
Um quarto de bebé
O mar
As janelas abertas
O vento nas cortinas brancas
Um bebé doce e calmo
As cortinas esvoaçantes
ANNICKA
Uma ilha.
Uma cabana.
Árvores. Frutos.
Uma luz, um corredor
Uma luz amarela
Um corredor preto
FILIPE BELO
Ouço Sons Sons,
Sons de tranquilidade
Sons de paz
Vontade de dormir
Esquecer tudo à minha volta
Só eu e os Sons
ANDREIA SILVA
Sons Sinos
Sinos de igreja
Cemitério
Antepassados
Tempos passados
Com antepassados
DAVID NEVES
Debaixo de água
Vejo a luz
O cenário muda
É verão.
A brisa percorre-me
Deitado na cama, a relaxar.
Outros tons. Outros sons
De novo a viagem
Debaixo de água
Vejo a luz do sol
O sol movimenta-se com as ondas
Como uma dança entre as ondas e a luz
O cenário muda
Uma casa. Uma pradaria.
Olho os campos
Alguém a meu lado faz-me sentir bem.
BRUNO MARTINS
Estava a ouvir o mar
e
a
sentir
o calor do meu corpo
não me lembro de mais nada.
JAMES MATOS
Mundo preto
Ar fresco à minha volta
Calma. Sons à minha volta.
Pequena luz.
Palavras da minha vida
Pessoas da minha vida
Sem sentido
É preciso chegar à luz
Abri os olhos
Vi a calma
A acordar
É preciso responder à luz
Quando se morre.
ANA RITA
O JOGO DA FLORESTA COM O 10º N1...
Numa floresta surrealista achei uma chave,
Qual espada de brilho incandescente.
Regressei a casa e com aquela chave
Abri o meu coração.
Libertei a minha alma
Voando pelo tempo
Andei pelo sonho
Acordei num corpo extasiado
Graças à chave, vivo a minha vida
Carlos, 10º N1
Linda floresta, tão admiradora quanto bela.
De tanto escutar os seus pássaros,
Apaixonei-me por ela.
Ao respirar aquele ar,
Desejei nunca mais tornar a casa.
Guilherme, 10º N1
A Floresta
É verde, rodeada de árvores
Grande
É a casa dos animais
Silêncio
Floresta calma
Por ser tão calma
Até se ouvem sons de animais
Na floresta
Ruben, 10º N1
A floresta era linda
Árvores, folhas verdes, tão verdes
Como a esperança.
Os pássaros trinavam encantadoras melodias.
Raios de sol no lago, onde a minha imagem ficou
Reflectida na água como um espelho.
Ânia, 10º N1
Floresta que agarra a diversidade
Ser calmo que
Faz libertar a alma...
Imaginar...
Imaginar o que o mundo nos deu
Seres magníficos, inconfundíveis
A floresta é a natureza
Que deus nos deu.
Inês, 10º N1
Na floresta, encontrei uma chave
Chave bela e antiga com quatro dentes riscados.
Muitas vezes foi usada, em portas, baús e tesouros
Redonda, dourada e já enferrujada
Esta simples chave
Mariana G 10º N1
O prato da minha avó
ficará sempre no meu coração
no dia em que ele partiu ninguém mais o viu.
O prato velho da minha avó
tinha muito ainda para dar
E quando é de repente
custa mais a passar
o prato da minha avó
PAULO, 10º N1
Na floresta havia um lago
Maravilhoso e inspirador
Nele se reflectia o sol
Nele se viam os peixes.
Via-me nele como se fosse o meu único espelho.
Nele reflectia o meu rosto,
A minha cara, o meu nariz, o meu corpo
Era um lago maravilhoso e inspirador
Nele se reflectia o sol
Nele se via o meu rosto
Marlene 10º N1
No lago
Estamos num barquinho
Naufragando... Águas nítidas
Fundo misterioso
De um azul escurecido e
Seres de cores exóticas
Algas e peixes e animais nunca vistos
Aqui no fundo, cada vez mais profundo
Aqui no mundo cada vez mais mudo
Jonathan, 10º N1
Lago exótico
Cascata
Mar
Água limpa, peixes coloridos
Tartarugas
Corais no fundo
Água quente, queimei-me, acordei
E cresci!
Mariana S, 10º N1
Um lago seco,
Completamente seco
Contudo existia VIDA
VIDA de forma muito estranha
Vida sem água
Sem absolutamente NADA
Apenas peixes e insectos
Velhos e medonhos
Fartos de esperar
E imaginar.
Sonhavam,
Sonhos
Que não chegavam…
Francisco, 10º N1
No meio da vida , o muro, separando….
Um muro
Um muro que não deixa ver
E quem o fez pretende esconder, esconder…
Um muro
Alto e inquieto
Talvez seja o futuro
O futuro secreto…
João, 10º N1
O muro é longo, velho
Está a cair
É do meu tamanho
Dá para subir
Está cheio de buracos
São janelas
Mas não sei o que me espera
do outro lado
Das janelas
Jordan, 10º N1
A POESIA É UMA COISA INDEFINIDA...
A poesia é uma coisa indefinida.
Cada pessoa pode escrever o que lhe vai na alma, mas os seus leitores podem interpretá-la de maneiras diferentes. É uma guerra de sentimentos, um desabafo das nossas emoções, serve de certo modo para nos aliviar o espirito.
Através das palavras, a nossa imaginação pode levar-nos a quilómetros daqui mas isso, depende de cada um.
Por vezes, não compreendemos o que o escritor nos quer transmitir, mas um poema tem sempre informação a reter, que nos faz pensar, tornando-o assim, uma espécie de… filosofia.
E como podemos ir sempre mais além, é infinita.
Flávio Mamede 10º N2
Aconteceu na Escola Secundária de Silves
No dia 11 de Março, Quinta-feira, o poeta Paulo Condessa esteve na Escola Secundária de Silves, num encontro promovido pelo Projecto L.E.R. da escola, em colaboração com a Biblioteca Municipal. O escritor/poeta apresentou o espectáculo “Louco Homem Gramático”, que é, segundo as suas palavras, “um esquisito espectáculo poético alfabético”, e os alunos puderam conhecer um pouco a sua obra, principalmente a poética. O encontro foi caracterizado por uma atmosfera de grande envolvimento e adesão por parte do público jovem e ao longo de todo o espectáculo houve muita animação. Nós mesmas denominamos este encontro como “um momento a recordar”, tanto pela originalidade do artista, como pela sensação de partilha de experiências existente entre os elementos presentes.
Depois de uma introdução ao espectáculo, realizada por Paulo Pires, animador da Biblioteca Municipal, o poeta deu início ao seu espectáculo, muito divertido e dinâmico, e muito apreciado pelos alunos presentes. Por entre jogos de palavras e alguns trocadilhos um tanto ao quanto “esquisitos”, Paulo Condessa divertiu a plateia com a sua apresentação em tom teatral. Um dos momentos altos do espectáculo ocorreu quando os alunos acompanharam o poeta na leitura de um poema num registo Rap.
Seguidamente, alguns alunos, agrupados em trios, duplas, ou até mesmo sozinhos, declamaram poemas do escritor, o que demonstrou a diversidade de escrita presente nas suas obras.
A finalizar com chave de ouro, os presentes foram brindados com uma sessão de relaxamento, em que as palavras se combinaram com sons provenientes de instrumentos peculiares. Tal sessão permitiu a todos viajar por mundos longínquos, plenos de sensações, descritos como retratos ocultos do corpo e da mente.
Toda a exibição foi de uma imensa riqueza linguística e pessoal, e, na nossa opinião, salientamos a capacidade que houve para nos abstrair do mundo à nossa volta, explorando a língua portuguesa nas suas múltiplas variantes.
O poeta apresentou ainda este espectáculo na Biblioteca Municipal, no mesma dia, a partir das 21h. Possui um blog de nome “Sangue transparente”, que pode ser visitado em:
http://paulocondessa.blogspot.com/ .
Deixamos aqui um pouco da poesia de Paulo Condessa:
Cada lágrima é um beijo
e em cada lágrima caio eu Tu o beijo a cascata
são já pétalas somos flores
caímos sempre a subir
esquecemos avisos em cima de avisos
somos galgos brancos alados
subimos nuvens, absortos
insubmissos
Joana Cabrita, Liliana Guerreiro e Joana Luz 10º N2
NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE SILVES
No âmbito do Dia Mundial da Poesia e da Semana da Leitura, a Biblioteca Municipal traz a Silves um dos mais originais e criativos promotores portugueses do livro e da leitura da actualidade, Paulo Condessa, que virá apresentar o espectáculo “Louco homem gramático”.
Dia 11 de Março - pelas 10 horas no Auditório da Escola Secundária de Silves :
para alunos e professores, havendo depois uma conversa/debate do autor com os alunos sobre os seus livros.
e à noite, pelas 21.00h, na Biblioteca Municipal, dirigida ao público em geral.
“louco homem gramático” é, nas palavras de Paulo Condessa, um “esquisito espectáculo poético alfabético”. Numa loucura organizada, às voltas com a leitura e com os tiques da língua, um homem tenta fazer um espectáculo de amor e poesia. Mas tropeça na gramática e cria alergia alfabética. Decide então tomar uma medida profiláctica: imagina um Manifesto contra a velha Gramática! Evoca os grandes heróis da liberdade poética e propõe um palavrário que torne a Língua numa coisa mais… alfassintéctica!
Este espectáculo procura desenvolver o sentido crítico a partir do sentido lúdico e humorístico, despertando o público para a Língua como fonte de investigação pessoal e social, e associando assim a leitura a prazer e diversão.
o céu dentro da boca
Desci as escadas da nave. Pús o pé no planeta
senti a bota afundar-se
numa espécie de algodão doce
A Terra é um sonho virado
de cabeça para baixo (...)
cada beijo é um degrau macio
cada lábio deixa
uma suave pegada de amor
pendurada no parapeito
da boca aberta
cada beijo é uma flor um assobio
cada língua um gomo de esperança
a boca acorda ao som de uma boca inquieta
cada beijo cada pétala
cada degrau macio
subindo até ao céu desperta
o sonho da boca incompleta
in "degaru macio"
Vista desta janela a lua parece poderosa
deve ser por aqui por esta fissura amarela
que à noite os sonhos me entram
directos para as artérias
são duas salas opostas
separados por longos cortinados carmim
onde os grandes combates tomam ligar
no coração do mundo
claro escuro (...)
in "agri-doce"
A minha vontade é espalhr
este grito enorme pelo escuro
enviar uma mensagem
aos corpos vibrantes do espaço
testar se podem realmente ouvir-me
essas grandes barrigas celestes como as mães
ouvem os filhos
acontece que a certas horas do dia
tenho medo que as minhas dúvidas se transformem
em pássaros negros com bicos que deslaçam
rompem amarras até ao limite tolerável
pela matéria que a minha carne sustém
podia ser um fax um telegrama uma mensagem
que fizesse a diferença uma mensagem
que se escutasse a si própria como aos meus ouvidos
se recusam a dar a volta completa
dentro da nave (...)
in "pulmão vestido"
Apresente-se o céu dentro da boca...
Este é o relato de uma viagem impossível pelos astros por todos os mastros que uma nave tern que erguer ao redor do seu corpo luminoso enquanto viaja a nave coroa o espaço dentro de si dentro do espaçoantes que o Sol passe de novo por entre as orbitas são rios de pálpebras que guardam a sombra uma verdade inscrita em todas as portasMuitos iguais a mim não vislumbram esta retina, não perfuramesta devoção aérea com olhos flamejantes:andei a flutuar demasiado tempo acima das cabeçassem saber que estava perdido Demasiadas vezesdei comigo a pensar A projectar-mepara fora do olho em orbitasensível. Masnão tive como dizeralternativa. Oiçamo negro de veludo e constante durante a noitedurante o dia as únicas luzes são estrelasque pertencem a constelações inalcançáveisquando a gravidade se ausenta em parte incertaos pontos cardeais descolam do cérebrosão flocos conscientes que tremem dentro do musculoe eu tremo nas fundações da solidão sideral, tremono inverno que alberga o meu corpo infinitamente minúsculo,tremo e cresço perante: o trono universal(…)Se vos deixo estas memórias meus herdeiros é porque o devo a mim próprio e ao Mundo mas é a Ti que me escapas a Ti que me incentivas que agora me dirijo a Ti e a Vós que iluminais os ares que me circundam com os archotes sagrados do coração. (…)Esta é a história; são estes os registosdo desencontro com o encontro dos olhos com a carado cabelo com a franja do explorador com a sua naveo seu percurso o seu planeta a sua vida a descascaros dedos ate poder sentir em filigranaa renda branca, os gomos nusda Grande Laranjaque o Tempo guarda dentro do tempodentro do corpo onde o Céu derramao sumo da luz que oferece a luzagua que não molha fogo que não queima.Paulo Condessa, o céu dentro da boca
O Segredo é amar...
O Poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: «É preciso saber olhar...». E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadito de sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens andavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: «O Poeta beija tudo, graças a Deus ... O segredo é amar...»
Sebastião da Gama (n. 1924, Vila Nogueira de Azeitão), Diário»