O que Somos?
O que julgamos ser? Quantas máscaras se colaram ao nosso rosto?
Esta nossa aluna procurou cavar nos subterrãneos do ser... para sondar o insondável...
Pensamentos difusos a invadirem me a mente… rasgam me a visão…
ensurdecem me a voz… gritam pensamentos aqui… agitam se pensamentos ali… numa
nevoa tão nítida onde se entende tudo e nada… onde se clarificam e realçam e
onde se recalca só mais um pouco o que nos atormenta… o que nos vai na dita
cuja alma… quando crescesse julgava eu que seria livre… pobre inocência de criança
que não deu conta que na altura é que era verdadeiramente livre… livre para
imaginar, pensar, dizer, fazer… até que se começam a impor regras, conceitos,
preconceitos… manias… passamos a aprender que crescer é esconder a nossa
essência… mascarar o nosso verdadeiro eu… e quando damos por ela já temos a
mascara tão entranhada em nós que acabamos por ter dificuldade em distinguir…
distinguir pensamentos… vontades… desejos… como o ser humano pode ser tão cruel
para ele próprio?! ... Muito provavelmente é por isso que arruína tudo à sua
passagem que nos leva para o aniquilamento de praticamente tudo… Quando eu for
grande, quero ser pequena, pois não quero ser grande igual aos outros… Não me
quero deixar levar… só o peixe morto é que se deixa levar pela corrente… e eu
estou viva pronta para nadar contra a corrente… criando portanto a minha
corrente… vivemos constantemente com a cabeça cheia de entulho… ligamos a
coisas sem importância nenhuma e desligamos daquilo que mais importância tem…
vivemos para as aparências e para o que é politicamente correto… não pensamos
nem questionamos… preferem ser peixes mortos e deixarem se levar pela corrente
de conceitos preconcebidos… normas e regras estruturadas sabe se lá por quem… e
segui-mo las sabe se lá porquê… parecem choques a invadirem me a mente tenho
uma trovoada na cabeça tão ensurdecedora que custo me a ouvir pensar…
distinguir pensamentos, dividi-los… vêm todos de uma vez… temos a mania de
querer rotular tudo… pôr por partes e secções… sem ficar nada suspenso… mas a
questão é: estás de pés assentes no chão? Voas? Ou estás suspensa no pensar que
é teu contaminado por tudo aquilo que te rodeia e faz a dita pressão da
sociedade? ... A resposta é: Estou presa à Terra pelo peso do meu pensar. Estou
livre para voar com o meu sentir. Fico suspensa sem respirar com aquilo que me
querem vestir, com o papel que querem que represente, com todas as correntes a
puxarem-me para o vazio que é a suspensão mascarada com a melhor qualidade que
há, tão grudada naquilo que sou que é um sufoco ficar suspensa, como se visse
de cima a futilidade das coisas a que tanto as pessoas ligam quando a
verdadeira essência de tudo lhes escapa por entre os dedos por livre e
espontânea vontade porque são cegas de tanto ver e nada olhar… culpa por não
ser culpada… culpada por não ter culpa… cega mais a normalidade do que a
própria cegueira… tempo… tudo uma questão de tempo… tic tac tic tac…
Uma espécie de mim…
07/06/15
É isso ai
Mais um ano terminou. E os trabalhos produzidos em escrita criativa aqui ficaram registados: uns ao longo do ano, outros só agora.
Procuramos que no próximo ano haja mais tempo disponível, para trabalharmos com a regularidade desejável (quinzenalmente).
Esperemos que os horários possam facilitar as atividades extracurruculares.
Um tranquilo tempo de férias são os votos desta equipa.
Irene Ferreira
Cristina Nunes
Esmeralda Lopes
De JOÃO SERPA, 11º N1
Animais a aparecer
Abelhas a zumbir
A primavera chegou
Gotas de orvalho
Gosto solitário
É como água
Rosas belas
Cheiro agradável
Bom perfume
De Alexandrina Sequeira, 11ºN1
Ao luar vejo
uma harmonia de luz
que me preenche!
Chega a tristeza
num relâmpago
que me queima a alma!
Solitária, sinto
o gosto de esquecer
aquele dia...
Vem o outono:
sopram os ventos
caem as folhas.
De Diogo Martins, 11ºN1
Na noite de lua cheia:
sopra o vento
na janela
Chega a primavera
acaba o inverno:
o frio é lento
o vento sopra violento
arranca as folhas :
e as árvores ficam despidas
Sofia:
Ao luar, vejo
As nuvens dos tempos
Navegando no céu.
O gosto solitário
Da noite:
Esqueço-me de tudo.
O ruído do vento:
Entre os cabelos
Desmanchando-os.
De TIAGO BAIÃO, 11º N1
O dia aparece:
A lua cheia
Irá descansar
Numa noite bela
Um lobo uivando alto
Para a grande Lua
Chega a Primavera
Uma papoila nascendo
Soltando o perfume
De Inês Campos,11ºN1
O dia desaparece
Mas falta
A música
Um céu grande:
Onde posso
Toda a noite descansar
A primavera desaparece
Aparece a tristeza
E a beleza foge
Alexandre Neto
Acabaram as guerras
mas não o rancor:
arma silenciosa
As estrelas vão:
em negro plano
alcançando seu altar
Jasmim florido
cheiro sensacional
de manhas quentes
Da CRISTINA JOMIR 11º N1
O sol brilhava,
Já o vi nascer
Numa manhã de verão.
E passa entre os dedos,
Para parar no mar
uma fina areia.
até nos dias de primavera
a minha sombra
estava cheia de alegria.
Da Raquel Sequeira, 11º N1
Céu limpo:
Estrelas no céu
Alegram-me os olhos
Uma luz mergulha
Num breve instante:
O ruído da agua
Inverno
Preso numa gota
Num instante:
Chuva!
De Diogo Soares, 11º N1
Acaba a noite:
Começa o dia,
Que alegria!
Brisa tardia:
A sombra do girassol
Aquece-me.
Flor de uma árvore:
Qual árvore?
A mais bonita.
De Luís, 112- N1
fica de noite
Mas não a vejo:
A coruja
O sol aparece
O calor chega :
A chuva desaparece
Eu mergulho
Na minha piscina...
O barulho - chapa!
Da BIA, 11º S1
QUASE HAUKUS
Aragem fresca, pura!
Refrescas-me a ideia...
E a esperança que me rodeia.
Será arrependimento
Ou apenas sofrimento?
Aí... Que azar o meu.
Labirinto sem saída
Onde nunca me encontrarei.
No pensamento parei de respirar.
Da NADINE BELO, 11º
S1
Este caminho,
Longo e duro
Sem ponto de ar
Tu e eu,
Eu e tu
Lindos como a primavera
Luz que me ilumina,
Depois da tua morte
Me guia para lá da vida
INVERNO:
Teu corpo gelado me toca
e eu senti uma
brisa a passar por mim.
PRIMAVERA:
Flores a sorrir:
sorrisos espalharam,
apareceram no teu rosto.
VERÃO:
Cheiro a maresia
de calor penetrado
na areia suave.
De Cristiana Rodrigues , 11º S1
Onde estás? Inspiração,
Todos os dias te
procuro,
Vejo-te, quero-te.
A mente abre-se à nova ideia,
Não basta ter,
tem de ser boa.
Quem és tu criança:
Que veste geada e vento?
És a neve!
De ANA FILIPA, 11º S1
Inspiração,
andas desaparecida!
Corro atrás de ti
E tu foges das minhas mãos.
Flores, árvores
Pássaros e borboletas.
Respira-se Primavera.
Quem és?
Sou o teu reflexo.
Sou aquilo que não queres ver.
De MIGUEL LANÇA, 11º
S1
Foste tu, só tu
Sofreste por mim, tudo
Agradeço-te
Mulher nua:
Pura,linda,bonita
Fica comigo.
Lágrimas tuas :
Choram os meus olhos.
Profunda nostalgia.
De MICAELA, 11º S1
Inspirado no Haikai de
Bashô : primavera
Ah, Primavera!
Como gosto de ti
Tão florida, sim.
Quase Haikus
Banco de jardim
Partido, estás assim!
Pássaro meu
Voa daqui pra fora
Vai pelo ar.
De Ruben Lima, 11º S1
Baseado no poema : O OUTONO de Bashô:
Canções mui belas
Nestas flores singelas
Ouço as cantarolar
Ventos gigantes
Me levam para longe
Da minha calma
A paz é alma
Do corajoso rapaz
Despertando calma
De GABRIEL BENTES
O vento sopra
A natureza canta
Tudo festeja.
O verão chegou,
Temos de nos refrescar
Do grande calor.
Pássaros vão
Alguns regressam
Para o ninho
De PEDRO SILVA
Uma bola vagorosamente:
Pelos campos verdes,
Onde se ha de esconder.
O velho charco:
Com o som do mar
Onde a rã mergulha.
O grão de areia,
Tão só,
Escondido entre muitos.
Da Cláudia 11º N2
Flor bravia:
Que fizes-te tu
para me encantar?
Biliões de segredos no mundo:
Eu só quero descobrir
o teu sorrir.
Tantas pessoas no mundo
e o meu coração só
te deseja a ti.
Da ANA RAQUEL
Amor, incerteza,
Desfaz a nossa natureza.
Causador de tristeza.
Os sonhos espelham:
Real, imaginario,
Todos querem ter.
O presente ausente
O criador que não cria
Carinho procurado.
Da Liliana Ramos, 11º N2:
Se o cavalo dele
tivesse sido domado
pela minha mão -
eu tê-lo-ia ensinado
a não seguir ninguém.
O cavalo dele
segue um
pobre pardal
pela
natureza.
Mesmo quando um rio
de lágrimas atravessa
e molha este corpo,
não chega para apagar
todo o fogo do amor.
Um fogo gigante:
matou toda a floresta
mas um rio apagou-o.
Deixada aqui
a envelhecer no mundo
sem ti ao meu lado,
as flores perdem a beleza
tingidas de negra cor.
As flores vermelhas
sobressaem da cor negra
mostrando a beleza.
Os HAIKAI's do RAFAEL:
Uma bola de basquet
Outra de voley
Puff, paff, psss!
Rede à minha frente
Não é para pescar
É para jogar.
Rapazes a correr:
Rios se criam
Como é bom o Verão.
Dependência:
Sensação de saudade.
Sou incapaz de crer.
Sinto o stress a ir
Sinto o gosto a vir
Olá, férias.
De Luís Carreira, 11º N2
Sempre te segui,
À procura de melhor,
Sempre mudo.
Uma melodia oiço.
Chegou a hora ,
Vou partir.
Aí estás tu,
À minha espera.
O precipício!
Que escuro se tornou.
O teu sorriso bastava,
Dizes que não prestava!
Ao longe eu te vejo,
Só eu estou.
Frágil!
À espera que voltes,
Sem ti sofro.
Ajuda-me.
Da Ana Rita Palma, 11º N2
Queria ser livre,
Como um passarinho.
Voando de árvore em árvore.
Vi uma bonita flor,
Estava plantada.
Coitada! Devia estar farta de esperar!
A depressão invadiu-me
A morte rodeava-me
A escuridão chegou
O vento sussurrava:
Calmamente,
Entre as árvores.
O POETA
O poeta é alguém muito especial face aos outros especiais... fala com o coração, escreve com a alma e rasga os horizontes com a sua emoção e a sensibilidade executa o mais belo hino de homenagem à existência pelo êmbolo da palavra que norteia os espíritos saciados de alimento!
O poeta, esse mestre dos sentimentos, guiado por algo que o transcende e que ele próprio se deixa levar, abraça a dimensão mais elevada, faz sair de si algo que veio recebendo do além ou universo e como consequência purifica-se pelo ato da escrita, momento catártico, fazendo levar ao outro uma mensagem originária, onde se desvelam forças únicas, numa apoteose de comunhão e oração face à existência.
Os poetas são seres especiais, nem sempre bem entendidos, porque o que trazem na massa do sangue transporta-os para um outro horizonte, uma nova esfera, burilada pela ascensão, por um outro princípio cuja filosofia, enquanto amor pela verdade, aspira sim a uma perfeição; tal radicalidade, porque o poeta é mesmo assim, exigente consigo e com o mundo, procura atualizar-se, em estados de ebulição mental, lutando contra tudo e todos mas não deixa de ser ele, sempre em procura constante da felicidade. O seu mundo é um mundo maravilhoso, ainda que forma tal não seja objeto universal, mas é em si pelo seu particular, na relação com o eterno.
A Universalidade do poeta, emergiu do particular, elevou-se, de cada em cada vez, pela sua sensibilidade, pela sua condição especial de interiorizar o mundo, a existência, todas as condições que o rodeiam, numa relação da qual não se livra, a sua consciência, relicário, arca cheia de obras que estão sim a esperar o momento de dar à luz. O poeta é aquele que é capaz de ultrapassar as condicionantes da sociedade, as amarras, é aquele que sabe dizer não, aquele que assume para si a sua condição de ser e procura a harmonia com os outros, ainda que tal harmonia ser manifesta pelas mais diversificadas palavras, seja assim a arte da palavra as vertentes lúdicas de uma arte nobre, como os sonetos, as quadras e todos os exemplos metrificantes da poesia e atos de rima... contudo, também e pela liberdade de expressão se foge a todas essas condicionantes, pelo poema livre. É o Sol para todo o universo... da tradução do que se passa dentro desse aparelho que gravita no cosmos.
Silves. 27.04.2014
Jorge Ferro Rosa
-
FERVOR
O coração leva
a alma
O grito é
inteiro...
A alegria é um
fervor
Onde nos
desejamos
Cada um é o
primeiro.
Feliz na
verdade da construção...
A luz dos
desenhos
A maturidade
das cores
Esta
transformação assim...
Vileza do
arrebatamento
A liberdade de
ser Fontes azuis... odores
Pela aragem do
firmamento.
Cenáculo dos poemas...
O trabalho das
mãos
O intelecto...
o pensar
Tantos temas
Ainda em
vazios por respirar.
O teu nome é o
silêncio...
A tua voz é
deste mês
Transformar
uma vez
No rio do
perfume
Pela trova de
Abril, a semente
Algarve quente
de maresia
O fervor de
tanta gente.
Silves, 23 de Abril de 2014 Abril de 2014
(auditório da Escola
Secundária de Silves)
Jorge Ferro Rosa
O resultado de um encontro com as escritoras:
Maria do Sameiro Barroso e Maria Teresa Dias Furtado, em Silves, no passado dia 23, na Escola Secundária, com os nossos alunos: 10º H1, 10º H2 e 11º N2:
Partilharam experiências, revelaram processos de escrita, deixaram um incentivo aos alunos:
Escrevam Haikai's. A Inês, do Algoz, foi a primeira....
Luís Ramos e Margarida Bôto leram poesia das escritoras.
Deixaram-nos a sua sabedoria. A ambas, o nosso grato reconhecimento.
E, no dia seguinte, recebemos dois belos poemas, inspirados nesta palestra.
Ei-los:
Às maravilhosas crianças, adolescentes e professoras da Escola Secundária de Silves que visitei no Dia do Livro:Em Silves, as crianças adormecemna soleira do vento,acordam em Algoz, Messines, Tunes,atravessam as pontes do Arade,escutam o cortejo da terra,o sabor dos frutos, o florir das árvores,embalados no balir nos prados,na arca sem tempo em que os animais
se acolhem,
entre rostos de todas as idades,
e os seus olhos descem pelas águas,
como laranjas despontando
entre a catedral e o castelo.
No sol dos seus segredos,ecoam
toadas mouriscas.
E eu lavo os olhos, o peito, o coração,
a pele absorvendo a pedra:
malaquite, selenite, dentes de tubarão,
míríades de conchas-fósseis,
ao som dos alaúdes, clarão intocado,
onde a madrepérola desponta,
no preâmbulo antigo
dos limoeiros em flor.
Maria do Sameiro Barros
Os jovens, os meninos, as professoras, a cidade e o rio...
tudo em terreno algarvio,
terreno bem preparado,
com vibração pensado.
Vi futuro e vi presente
tão belos,de repente,
que mesmo sendo dia,
vi que era mesmo poesia.
Foi tanto o que recebi
com alegria parti,
para voltar novamente
a Silves, à sua gente.
Colhi primeiras palavras
de pequenos sorridentes;
senti nascerem fluentes
novos poemas ardentes.
Maria Teresa Dias Furtado
Ei-las que chegam, peregrinas, as palavras!
Libertadas as palavras
Chegam cristalinas,
perfumadas, adamantinas.
Ei-las que correrão de novo por aqui,
Paladinas do amor
Desenfreadas
Em busca do leitor.
Sejam bem vindos, todos os alunos do 12º ano que desejem postar no velho blogue que esteve encarcerado durante um ano.
Basta que nos enviem os vossos trabalhos para crelifma@gmail.com e de imediato os verão aqui postados.
Trabalhos literários, ensaísticos, poéticos, artísticos ou de outra qualquer natureza, com ou sem pseudónimo, pedido que sempre respeitamos.
...na Escola Secundária de Silves
Nos dias 21 e 22 de Abril, a artista Vera Mantero esteve na Escola Secundária de Silves. Durante esse tempo decorreram algumas actividades que aproximaram os alunos da coreógrafa e bailarina portuguesa, cuja obra foi dada a conhecer à comunidade escolar.
Detentora de vários trabalhos/obras a nível internacional, Vera Mantero tem-se destacado na área da arte contemporânea, tendo participado no 4º Festival Internacional das Artes de Castilla y Léon, em Salamanca, em 2008, entre outros espectáculos do género.
As actividades consistiram na visualização de documentários, realização de debates, performances e recriações artísticas em torno da sua obra. Em particular, a 22 de Abril, foi apresentada, durante a tarde, “Comer o coração”, concepção e criação conjunta entre a coreógrafa e o escultor Rui Chafes. Vários alunos do 10º e 11º anos recriaram precisamente pinturas com base na obra apresentada, e, para além disso, também outros escreveram poemas inspirados nas criações de Vera Mantero. Houve ainda espaço para colocar várias questões à artista, que contribuíram para um diálogo fluente e mais próximo entre a mesma e os alunos.
De salientar a boa atmosfera presente no encontro, marcado pela partilha de sensações/sentimentos e sobretudo, por uma completa admiração pela arte.
A passagem de Vera Mantero pelo concelho não se restringiu à Escola Secundária. Durante toda a semana em questão, decorreram várias actividades na Biblioteca Municipal, entre elas workshops, apresentações e sessões artísticas. Desta forma, os munícipes puderam contactar com o trabalho desenvolvido pela coreógrafa.
Joana Cabrita
10º N2, nº18
e os alunos criaram...
um workshop teve início por volta das 13h30min com a apresentação de um documentário baseado no espectáculo de Vera Mantero e do escultor, Rui Chafes, Comer o Coração.
Após a visualização do documentário os alunos presentes, nomeadamente, os de Artes foram destacados para pintarem painéis e os de Ciências e Tecnologias para elaborarem textos, para que, através daqueles mesmos trabalhos, se pudessem expressar consoante com o que tinham acabado de ver.
O workshop contou com o apoio incondicional das professoras responsáveis por toda a organização: do projecto Ler - Maria José Afonso, Carla Rosete, Esmeralda Alves – e da professora de Artes, Aurora Neves.
Pelas 15h30min, a protagonista de todo o trabalho que estava a ser feito, Vera Mantero, teve o prazer de contemplar todos os presentes com a sua visita, apreciou os trabalhos e acabou por ver um pequeno slide com a intervenção de algumas alunas que lhe iam colocando questões acerca dos seus projectos e da arte contemporânea. De forma descontraída, em cima de uma mesa, de pé e encostada à janela, respondeu às perguntas colocadas.
Entretanto, Vera Mantero teve de se retirar para descansar e preparar o concerto que naquela noite ia decorrer na Biblioteca Municipal de Silves. O workshop prolongou-se durante grande parte da tarde até todas os projectos estarem concluídos.
Catarina Laginha, 10ºF1, Nº4
Resposta poética ao trabalho de Vera Mantero
Ouço num grito ausente
A verdade, um sufocar,
É vontade de fugir,
Fugir, naufragar, ficar para lá do presente.
Um corpo não só com movimento
Não só em pensamento
Também em viagem
Pelo mundo da liberdade
Como metáfora do tocável
E do tolerável, simples
Universo em plena miragem.
Vislumbro alguém pelo infinito
Em segredo, mistério,
Relevo indefinido
Mero problema de expressão
Rodopio silencioso
E o bater do coração.
No fim de contas, que sensação?
Talvez um louco bater,
Descompassado turbilhão
Todos e sós sentimentos
Numa gota de solidão.
Joana Cabrita
10º N2, nº18
«Somos, com efeito, alguma coisa do que dizemos que somos, mas somos muito mais aquilo que fazemos.»
Taborda de Vasconcelos, Quando os médicos escrevem
Livre, é assim que a vejo
Faz o que sente, usa o corpo como um meio
Um meio para chegar a um fim
Mas a que fim se pode chegar?
Que dança delirante, arte?
Um misto de expressões
Uma lufada de ar fresco
Ela é assim
Pára, pensa e sente
Age, dança e expressa
Ela respira cada sentimento
Sente cada pensamento
Como uma criança em agonia
Temos a artista em desespero
A vontade de dizer algo mais,
De dar algo mais.
A grande fúria dos sentimentos
A que não cala nem consente
Mas sente cada movimento, sentimento.
Liliana Guerreiro 10ºN2 Nº22
RESPOSTA À GRAMÁTICA DOS SENTIDOS
Os trabalhos que a seguir se apresentam são uma resposta poética à orquestração musical que o escritor e performer da língua portuguesa, Paulo Condessa, preparou para os alunos da Escola Secundária de Silves, através da sua palavra e dos sons que fez sair das taças tibetanas:
O 10 N2 ESCREVEU...
SINOS SINOS SINOS
IGREJA IGREJA
PRAIA
SINOSSINOS
PRAIA
IGREJA IGREJA
SINOS SINOS SINOS
RUBEN
Flutuo fora do meu corpo
O eu fora de mim
No perfeito branco
Na paz disforme.
Intenso
Pacífico
Indescritível
O eu fora de mim
Sai uma sombra transparente
Danço com doçura numa redoma
Uma caixa de música
Os sons e o vento em mim
Rodopio
Sinfonia
Suave balançar
Fragilidade tranquila
Um vento controla os meus movimentos
Canta-me segredos
Toca-me a transparência.
ADRIANA ROQUE
IR MAIS ALÉM
Campo verde.
Ervas altas transpiram ao sabor do vento
Ao longe, árvores de grande porte erguem-se na paisagem.
Sons calmos. Ervas rasteiras abanam levemente.
O Ritmo acelera, distorcido.
A imagem torna-se vermelha. Um campo a arder.
O Ritmo acalma. Eu estava na colina.
Ao longe, na colina verde
Os sinos tocavam lentamente na Igreja,
as palavras do poeta.
Descalço-me. Subo as escadas brancas do céu.
Anjos e fadas esperavam-me.
Em baixo, as colinas de ervas rasteiras balançavam
para acalmar a solidão da minha partida.
Recordação: Um candeeiro chinês.
Um espanta espíritos dançava ao ritmo do vento.
SIMBOLO da minha presença naquele local.
FLÁVIO MAMEDE
uma praia
areia muito branca
um anjo loiro
de pele perfeita e branca
o corpo
o corpo
o corpo
musculado do anjo:
-que fazes aqui?
não reagi, não respondi
LOIRA
Relembro sentimentos
O presente
Há experiências que aceleram o sofrimento
Relembro sentimentos, problemas
Não me acalmo
Nem esqueço os problemas
E os sentimentos torturam-me
Fui só eu.
JOÃO BENTO
Senti e ouvi
Senti-me noutra dimensão,
estava o meu espírito e os sons das taças.
Só isso, livre de qualquer pensamento.
Só eu e os sons.
Senti-me voar para longe desta sala.
Só eu e os sons.
No fim, voltei … lentamente e regressei ao meu corpo.
Uma paz de espírito.
Senti-me.
ANDREIA PISCARRETA
Imaginei-me …
A percorrer uma estrada,
uma estrada sem fim,
repleta de árvores
floresta, imagens sublimes
Corriam pedaços da minha vida
mistura de sensações
infância
toque de magia e mistério
paz
imensa e profunda
silêncio
ressoam sons em meu redor
Joana Cabrita
Emoções, sentimentos, imagens
A música leve
Um toque na face
Só, a vaguear
Perdi-te
Na rua
Era um dia escuro
Brisa fria
Brisa quente
Brisa doce
Um abraço
A avó e a neta
O adeus, o outro lado do mundo
DANIELA PACHECO
Calma.
Muita calma
Eu sou uma bailarina celestial
Assisto à missa num dia cheio de sol
Tranquilidade
Tocam os sinos na igreja
Agitação, agitação
Que experiência
JOANA LUZ
As palavras elevavam-se
Os pássaros chamavam-me
Subi, subi, subi
Era cada vez mais doce
Mais suave.
As palavras cessaram
Os pássaros devolveram-me
Desci, desci, desci
Ficou a sensação
Tão doce
LILIANA GUERREIRO
Na cama com
pesadelos
Na cama
Na cama
E os pesadelos
A certa altura caí
Levantei-me
Tropecei nas botas
Acordei
Depois não imaginei nada
SÉRGIO SILVA
Eu senti
Ouvi a música
A caixa de música da minha infância
Tinha 5 anos e estava triste
Tinha 10 anos e estava triste
Os meus amigos alegravam-me
Eu senti
Tranquilidade e harmonia
ANDRÉ SILVA
Um quarto de bebé
O mar
As janelas abertas
O vento nas cortinas brancas
Um bebé doce e calmo
As cortinas esvoaçantes
ANNICKA
Uma ilha.
Uma cabana.
Árvores. Frutos.
Uma luz, um corredor
Uma luz amarela
Um corredor preto
FILIPE BELO
Ouço Sons Sons,
Sons de tranquilidade
Sons de paz
Vontade de dormir
Esquecer tudo à minha volta
Só eu e os Sons
ANDREIA SILVA
Sons Sinos
Sinos de igreja
Cemitério
Antepassados
Tempos passados
Com antepassados
DAVID NEVES
Debaixo de água
Vejo a luz
O cenário muda
É verão.
A brisa percorre-me
Deitado na cama, a relaxar.
Outros tons. Outros sons
De novo a viagem
Debaixo de água
Vejo a luz do sol
O sol movimenta-se com as ondas
Como uma dança entre as ondas e a luz
O cenário muda
Uma casa. Uma pradaria.
Olho os campos
Alguém a meu lado faz-me sentir bem.
BRUNO MARTINS
Estava a ouvir o mar
e
a
sentir
o calor do meu corpo
não me lembro de mais nada.
JAMES MATOS
Mundo preto
Ar fresco à minha volta
Calma. Sons à minha volta.
Pequena luz.
Palavras da minha vida
Pessoas da minha vida
Sem sentido
É preciso chegar à luz
Abri os olhos
Vi a calma
A acordar
É preciso responder à luz
Quando se morre.
ANA RITA
O JOGO DA FLORESTA COM O 10º N1...
Numa floresta surrealista achei uma chave,
Qual espada de brilho incandescente.
Regressei a casa e com aquela chave
Abri o meu coração.
Libertei a minha alma
Voando pelo tempo
Andei pelo sonho
Acordei num corpo extasiado
Graças à chave, vivo a minha vida
Carlos, 10º N1
Linda floresta, tão admiradora quanto bela.
De tanto escutar os seus pássaros,
Apaixonei-me por ela.
Ao respirar aquele ar,
Desejei nunca mais tornar a casa.
Guilherme, 10º N1
A Floresta
É verde, rodeada de árvores
Grande
É a casa dos animais
Silêncio
Floresta calma
Por ser tão calma
Até se ouvem sons de animais
Na floresta
Ruben, 10º N1
A floresta era linda
Árvores, folhas verdes, tão verdes
Como a esperança.
Os pássaros trinavam encantadoras melodias.
Raios de sol no lago, onde a minha imagem ficou
Reflectida na água como um espelho.
Ânia, 10º N1
Floresta que agarra a diversidade
Ser calmo que
Faz libertar a alma...
Imaginar...
Imaginar o que o mundo nos deu
Seres magníficos, inconfundíveis
A floresta é a natureza
Que deus nos deu.
Inês, 10º N1
Na floresta, encontrei uma chave
Chave bela e antiga com quatro dentes riscados.
Muitas vezes foi usada, em portas, baús e tesouros
Redonda, dourada e já enferrujada
Esta simples chave
Mariana G 10º N1
O prato da minha avó
ficará sempre no meu coração
no dia em que ele partiu ninguém mais o viu.
O prato velho da minha avó
tinha muito ainda para dar
E quando é de repente
custa mais a passar
o prato da minha avó
PAULO, 10º N1
Na floresta havia um lago
Maravilhoso e inspirador
Nele se reflectia o sol
Nele se viam os peixes.
Via-me nele como se fosse o meu único espelho.
Nele reflectia o meu rosto,
A minha cara, o meu nariz, o meu corpo
Era um lago maravilhoso e inspirador
Nele se reflectia o sol
Nele se via o meu rosto
Marlene 10º N1
No lago
Estamos num barquinho
Naufragando... Águas nítidas
Fundo misterioso
De um azul escurecido e
Seres de cores exóticas
Algas e peixes e animais nunca vistos
Aqui no fundo, cada vez mais profundo
Aqui no mundo cada vez mais mudo
Jonathan, 10º N1
Lago exótico
Cascata
Mar
Água limpa, peixes coloridos
Tartarugas
Corais no fundo
Água quente, queimei-me, acordei
E cresci!
Mariana S, 10º N1
Um lago seco,
Completamente seco
Contudo existia VIDA
VIDA de forma muito estranha
Vida sem água
Sem absolutamente NADA
Apenas peixes e insectos
Velhos e medonhos
Fartos de esperar
E imaginar.
Sonhavam,
Sonhos
Que não chegavam…
Francisco, 10º N1
No meio da vida , o muro, separando….
Um muro
Um muro que não deixa ver
E quem o fez pretende esconder, esconder…
Um muro
Alto e inquieto
Talvez seja o futuro
O futuro secreto…
João, 10º N1
O muro é longo, velho
Está a cair
É do meu tamanho
Dá para subir
Está cheio de buracos
São janelas
Mas não sei o que me espera
do outro lado
Das janelas
Jordan, 10º N1
A POESIA É UMA COISA INDEFINIDA...
A poesia é uma coisa indefinida.
Cada pessoa pode escrever o que lhe vai na alma, mas os seus leitores podem interpretá-la de maneiras diferentes. É uma guerra de sentimentos, um desabafo das nossas emoções, serve de certo modo para nos aliviar o espirito.
Através das palavras, a nossa imaginação pode levar-nos a quilómetros daqui mas isso, depende de cada um.
Por vezes, não compreendemos o que o escritor nos quer transmitir, mas um poema tem sempre informação a reter, que nos faz pensar, tornando-o assim, uma espécie de… filosofia.
E como podemos ir sempre mais além, é infinita.
Flávio Mamede 10º N2
Aconteceu na Escola Secundária de Silves
No dia 11 de Março, Quinta-feira, o poeta Paulo Condessa esteve na Escola Secundária de Silves, num encontro promovido pelo Projecto L.E.R. da escola, em colaboração com a Biblioteca Municipal. O escritor/poeta apresentou o espectáculo “Louco Homem Gramático”, que é, segundo as suas palavras, “um esquisito espectáculo poético alfabético”, e os alunos puderam conhecer um pouco a sua obra, principalmente a poética. O encontro foi caracterizado por uma atmosfera de grande envolvimento e adesão por parte do público jovem e ao longo de todo o espectáculo houve muita animação. Nós mesmas denominamos este encontro como “um momento a recordar”, tanto pela originalidade do artista, como pela sensação de partilha de experiências existente entre os elementos presentes.
Depois de uma introdução ao espectáculo, realizada por Paulo Pires, animador da Biblioteca Municipal, o poeta deu início ao seu espectáculo, muito divertido e dinâmico, e muito apreciado pelos alunos presentes. Por entre jogos de palavras e alguns trocadilhos um tanto ao quanto “esquisitos”, Paulo Condessa divertiu a plateia com a sua apresentação em tom teatral. Um dos momentos altos do espectáculo ocorreu quando os alunos acompanharam o poeta na leitura de um poema num registo Rap.
Seguidamente, alguns alunos, agrupados em trios, duplas, ou até mesmo sozinhos, declamaram poemas do escritor, o que demonstrou a diversidade de escrita presente nas suas obras.
A finalizar com chave de ouro, os presentes foram brindados com uma sessão de relaxamento, em que as palavras se combinaram com sons provenientes de instrumentos peculiares. Tal sessão permitiu a todos viajar por mundos longínquos, plenos de sensações, descritos como retratos ocultos do corpo e da mente.
Toda a exibição foi de uma imensa riqueza linguística e pessoal, e, na nossa opinião, salientamos a capacidade que houve para nos abstrair do mundo à nossa volta, explorando a língua portuguesa nas suas múltiplas variantes.
O poeta apresentou ainda este espectáculo na Biblioteca Municipal, no mesma dia, a partir das 21h. Possui um blog de nome “Sangue transparente”, que pode ser visitado em:
http://paulocondessa.blogspot.com/ .
Deixamos aqui um pouco da poesia de Paulo Condessa:
Cada lágrima é um beijo
e em cada lágrima caio eu Tu o beijo a cascata
são já pétalas somos flores
caímos sempre a subir
esquecemos avisos em cima de avisos
somos galgos brancos alados
subimos nuvens, absortos
insubmissos
Joana Cabrita, Liliana Guerreiro e Joana Luz 10º N2
NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE SILVES
No âmbito do Dia Mundial da Poesia e da Semana da Leitura, a Biblioteca Municipal traz a Silves um dos mais originais e criativos promotores portugueses do livro e da leitura da actualidade, Paulo Condessa, que virá apresentar o espectáculo “Louco homem gramático”.
Dia 11 de Março - pelas 10 horas no Auditório da Escola Secundária de Silves :
para alunos e professores, havendo depois uma conversa/debate do autor com os alunos sobre os seus livros.
e à noite, pelas 21.00h, na Biblioteca Municipal, dirigida ao público em geral.
“louco homem gramático” é, nas palavras de Paulo Condessa, um “esquisito espectáculo poético alfabético”. Numa loucura organizada, às voltas com a leitura e com os tiques da língua, um homem tenta fazer um espectáculo de amor e poesia. Mas tropeça na gramática e cria alergia alfabética. Decide então tomar uma medida profiláctica: imagina um Manifesto contra a velha Gramática! Evoca os grandes heróis da liberdade poética e propõe um palavrário que torne a Língua numa coisa mais… alfassintéctica!
Este espectáculo procura desenvolver o sentido crítico a partir do sentido lúdico e humorístico, despertando o público para a Língua como fonte de investigação pessoal e social, e associando assim a leitura a prazer e diversão.
o céu dentro da boca
Desci as escadas da nave. Pús o pé no planeta
senti a bota afundar-se
numa espécie de algodão doce
A Terra é um sonho virado
de cabeça para baixo (...)
cada beijo é um degrau macio
cada lábio deixa
uma suave pegada de amor
pendurada no parapeito
da boca aberta
cada beijo é uma flor um assobio
cada língua um gomo de esperança
a boca acorda ao som de uma boca inquieta
cada beijo cada pétala
cada degrau macio
subindo até ao céu desperta
o sonho da boca incompleta
in "degaru macio"
Vista desta janela a lua parece poderosa
deve ser por aqui por esta fissura amarela
que à noite os sonhos me entram
directos para as artérias
são duas salas opostas
separados por longos cortinados carmim
onde os grandes combates tomam ligar
no coração do mundo
claro escuro (...)
in "agri-doce"
A minha vontade é espalhr
este grito enorme pelo escuro
enviar uma mensagem
aos corpos vibrantes do espaço
testar se podem realmente ouvir-me
essas grandes barrigas celestes como as mães
ouvem os filhos
acontece que a certas horas do dia
tenho medo que as minhas dúvidas se transformem
em pássaros negros com bicos que deslaçam
rompem amarras até ao limite tolerável
pela matéria que a minha carne sustém
podia ser um fax um telegrama uma mensagem
que fizesse a diferença uma mensagem
que se escutasse a si própria como aos meus ouvidos
se recusam a dar a volta completa
dentro da nave (...)
in "pulmão vestido"
Apresente-se o céu dentro da boca...
Este é o relato de uma viagem impossível pelos astros por todos os mastros que uma nave tern que erguer ao redor do seu corpo luminoso enquanto viaja a nave coroa o espaço dentro de si dentro do espaçoantes que o Sol passe de novo por entre as orbitas são rios de pálpebras que guardam a sombra uma verdade inscrita em todas as portasMuitos iguais a mim não vislumbram esta retina, não perfuramesta devoção aérea com olhos flamejantes:andei a flutuar demasiado tempo acima das cabeçassem saber que estava perdido Demasiadas vezesdei comigo a pensar A projectar-mepara fora do olho em orbitasensível. Masnão tive como dizeralternativa. Oiçamo negro de veludo e constante durante a noitedurante o dia as únicas luzes são estrelasque pertencem a constelações inalcançáveisquando a gravidade se ausenta em parte incertaos pontos cardeais descolam do cérebrosão flocos conscientes que tremem dentro do musculoe eu tremo nas fundações da solidão sideral, tremono inverno que alberga o meu corpo infinitamente minúsculo,tremo e cresço perante: o trono universal(…)Se vos deixo estas memórias meus herdeiros é porque o devo a mim próprio e ao Mundo mas é a Ti que me escapas a Ti que me incentivas que agora me dirijo a Ti e a Vós que iluminais os ares que me circundam com os archotes sagrados do coração. (…)Esta é a história; são estes os registosdo desencontro com o encontro dos olhos com a carado cabelo com a franja do explorador com a sua naveo seu percurso o seu planeta a sua vida a descascaros dedos ate poder sentir em filigranaa renda branca, os gomos nusda Grande Laranjaque o Tempo guarda dentro do tempodentro do corpo onde o Céu derramao sumo da luz que oferece a luzagua que não molha fogo que não queima.Paulo Condessa, o céu dentro da boca
O Segredo é amar...
O Poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: «É preciso saber olhar...». E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadito de sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens andavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: «O Poeta beija tudo, graças a Deus ... O segredo é amar...»
Sebastião da Gama (n. 1924, Vila Nogueira de Azeitão), Diário»